sábado, 28 de março de 2015

CONVERSA COM MEU FILHO

Montei e espalhei aos meus contatos uma série de fotos de predadores atacando suas presas e questionando a frase tão comum: “A natureza é linda e perfeita”. Meu filho respondeu discordando de mim e acabamos tendo essa conversa, via e-mail:

DANIEL:

Realmente, depois de pensar novamente, continuo achando a mesma coisa. A natureza continua linda como sempre foi.

Talvez linda não seja a palavra certa, porque isso implica em beleza que é subjetiva, mas não sei de uma palavra melhor para descrever. Para mim, a beleza da natureza está justamente em não se importar em ser bela. E é exatamente daí que surgem todas as possibilidades, ora boas e ora ruins, sempre dependendo do ponto de vista. Isso para mim é fantástico.

O interessante da natureza é que ao mesmo tempo em que impõe regras inquebráveis para todos os seres, vivos ou não, ela também dá uma liberdade virtualmente ilimitada para eles, isso acaba criando uma variedade tão imensa de possibilidades, que até mesmo a beleza pode acontecer.

E para mim, qualquer uma dessas fotos de um predador atacando sua presa, mostra exatamente isso. Uma única imagem apresenta uma gama gigantesca de informações, que podem ser belas ou não, dependendo sempre do ponto de vista. Para a presa pode ser desagradável morrer nas garras de um predador (ainda assim, comparado com o que? morrer de doença ou velhice?), mas para o predador deve ser ótimo, e este ciclo sempre continua, afinal toda presa é também um predador em algum momento.

A própria existência da imagem é um exemplo de beleza, independente daquilo que ela retrata. Uma imagem, assim como na natureza, é um microcosmo de valores onde existe ora o claro ora o escuro, que combinados de diversas formas dão origem a algo completamente novo e fascinante. Somente a possibilidade de existir este tipo de combinação já é incrível.

Eu não consigo achar uma imagem horrível simplesmente porque mostra a morte de algum animal, e muito menos extrapolar isso para toda a natureza. A morte é apenas outra etapa da vida, que por sua vez é apenas a continuidade entre uma vida e a próxima. E dependendo da forma com que se observa, fica difícil perceber onde começa uma coisa e termina a outra. Se em uma escala em que nós observamos aconteceu uma tragédia, em outra pode ser um milagre, ou em outra pode não ser absolutamente nada.

Enfim, eu vou continuar achando a natureza o máximo... :)

DIVINA:

Filho da minha alma,

Eu também, depois de pensar novamente, continuo achando a mesma coisa. A natureza é feia, muito feia, embora com coisas lindas como acessórios.

“Não se importar em ser bela.” É frase que podemos usar para qualquer coisa que achemos bela, que seja feminino e que não tenha consciência: uma pedra, uma equação matemática, uma representação gráfica e até mesmo uma criança ainda muito pequena. Não diz muita coisa, não é mesmo? Afinal, não é o ter ou não consciência da beleza ou do que seja beleza que faz uma coisa bela. Como você disse, é subjetivo, por isso temos opiniões diferentes...

A natureza dá liberdade aos seres? Que liberdade? Não concordo, ou não entendi o que você quis dizer. Não me sinto livre, aliás, não acredito em liberdade... Por exemplo: Não tenho liberdade para parar de matar e continuar viva; não tenho, e ninguém tem liberdade para ser diferente do que é: diferença mesmo, entende? Não apenas sutis variações já previstas...

Não sei, acho que não entendi a liberdade da qual você fala...

Sobre cada cena ter variedade de interpretações, tá certo, certíssimo. Tanto que a maioria das que usei não estão colocadas no lugar onde as peguei como mostra de horror, até o contrário. Mas eu vejo assim. Não consigo ver diferente. Acho horrível e acho triste e não me sinto bem como predadora. Sei lá, acho que ando sentindo demais...

Mesmo quando o predador começa a devorar a presa ainda viva você consegue achar bonito? Eu não entendo onde há beleza aí. Não entendo mesmo...

Concordo que é maravilhoso existir a imagem... aliás, não neguei em momento algum que existe beleza na natureza... existe muita! Acho as borboletas lindas, acho as corujas maravilhosas, acho as flores fantásticas, acho o mar uma loucura de belo... enfim, dá pra ficar listando e encher páginas e mais páginas com exemplos de belezas da natureza...

Mas atrás de quase todas elas está o horror, e isso me impede de simplesmente aceitá-la como bela, ou, pior ainda, como perfeita.

“A morte é apenas outra etapa da vida, que por sua vez é apenas a continuidade entre uma vida e a próxima.” Sério que você acredita nisso? Eu não. Acho muito difícil que exista esse lance de “outra vida”. Posso viver de novo se por um acaso as moléculas do meu corpo forem compor um outro ser depois de mim, mas não serei eu, não será outra vida minha, não terá absolutamente nada a ver comigo; da mesma forma que parte da poeira que varro, que é formada por células da minha pele, não sou eu e não tem nada a ver comigo.

Se existisse uma alma imortal como querem muitas religiões, qual EU viveria eternamente? Eu sou várias (todos somos), qual Eu estará nessa vida eterna? Uma eu criança? Uma eu adolescente? Qual eu adolescente? (Fui muitas “eus” na vida, mais ainda na adolescência) Qual eu adulta? Seria eu jovem, eu velha, eu mais velha do que sou hoje?

Pra mim é muito difícil acreditar de verdade em uma vida após a morte. (mesmo tendo certeza de que, se houver, eu te amarei lá). Acho que a alma, se existir, não só não é imortal como em muitos casos morre primeiro que o corpo...

Acho que sou muito egoísta. Dou muito valor às minhas impressões: Se do meu ponto de vista uma coisa é ruim, essa coisa é ruim e pronto. Ao mesmo tempo estou sempre disposta a mudar de ideia em muitos casos; aliás, mudo o tempo todo. Mas tem coisa que não muda não, por exemplo, posso estar enganada mas acho que não existe nenhuma chance de um dia eu vir a apreciar a “personalidade cativante” do Maluf! E isso é só um exemplo...

A morte, o medo, o horror que se esconde por trás da beleza-que-tira-o-fôlego-da-gente na natureza também é algo sobre o qual vai ser difícil que um dia eu consiga mudar de ideia e passar a achar que é bonito. Pode ser, mas acho difícil.

Mas você eu acho lindo!

DANIEL:

Então... eu não estava com muita paciência (e nem tempo) para escrever, então algumas coisas devem ter ficado confusas... e talvez ainda fiquem....

De fato, a natureza não se importa em ser bela, e realmente, isso vale para qualquer coisa que seja bela ou não. Mas não são todas as coisas que definem as regras do universo. Isso só a natureza faz. Portanto, o fato de se importar ou não em ser bela, faz diferença sim. Pois se a natureza se importasse, tudo seria diferente. E se tudo fosse belo, logo, nada seria.

Existe liberdade sim. Liberdade para fazer um monte de coisas, inclusive para deixar de matar e continuar viva. Se, por exemplo, você um dia conseguir descobrir uma forma de fazer a energia do sol ir direto para o seu corpo (ou para sua mente), não existe nenhuma lei contra isso. Não quer dizer que seja simples e ao alcance de todos, mas a liberdade está aí. Tantas coisas que fazemos hoje eram impossíveis há muito pouco tempo atrás e poderiam ser consideradas "anti naturais", e no entanto, estamos aí fazendo.

Variedade de interpretações não só existem, como são parte das liberdades que a natureza oferece. Qualquer um é livre para achar qualquer coisa bonita ou feia, não existe nenhum mecanismo para impedir alguém de pensar desta ou daquela maneira. Esta é outra coisa que eu acho "bonita" na natureza.

Quanto a enxergar beleza em cenas aparentemente horríveis, não sei se vai fazer sentido mas vou tentar explicar. Por exemplo, uma pessoa heterossexual pode olhar para um casal homossexual e achar horrível, nojento e asqueroso. Enquanto o casal pode achar perfeitamente natural e agradável. Da mesma forma, uma outra pessoa pode olhar este mesmo casal, não gostar exatamente da imagem que vê, e julgar portanto a cena feia. No entanto, ela pode perceber que não existe nada errado no ato em si. E talvez pelo fato de ver ali duas pessoas felizes e realizadas, pode inclusive acabar achando a mesma cena bonita, por outros motivos que vão além da plasticidade da imagem. A mesma coisa acontece com qualquer tipo de imagem.

Quando um predador devora a presa ainda viva, ele está apenas fazendo o trabalho dele. Simplesmente isso. Para ele, não há conflito nenhum, não existe um ser vivo sendo morto. É apenas o jantar. Nós é que conseguimos enxergar alguma violência nessa situação toda, e somente nós é que podemos atribuir qualquer valor a ela. Um valor que não vale absolutamente nada fora da nossa cabeça. Um leão sufocando uma gazela é tecnicamente tão chocante quanto a gazela comendo a grama, que a cada mordida mata dezenas de seres vivos, que por sua vez, dependem da morte de outros seres para poder viver, e por aí vai...

“A morte é apenas outra etapa da vida, que por sua vez é apenas a continuidade entre uma vida e a próxima.” Acho que não me expressei direito aqui. Não estava falando, de forma nenhuma em vida após a morte, reencarnação, imortalidade e nada dessas bobagens. O que quis dizer é que a vida existe de forma contínua, não a vida de um ser individual, mas a vida como um todo.

Quando um ser morre, vários outros vivem ou continuam vivendo, e por aí vai. Nada a ver com alma, espírito, ou sei lá. Só porque nós conseguimos enxergar o começo e o final de alguns seres, não quer dizer que este conceito faça muito sentido fora da nossa cabeça e do nosso ponto de vista. Da mesma forma que é quase impossível determinar onde uma vida começa, também não dá para saber com precisão onde acaba. E isso ainda pode mudar de acordo com o nosso ponto de vista. Pode ser que alguma coisa que consideramos inerte, na verdade seja viva. Pode até ser que tudo seja vivo, ou até nada, tudo depende de onde se observa.

Morte, medo e horror não se escondem por trás das cenas mais belas da natureza. Pelo contrário, isso tudo está bem à mostra. Nós humanos é que tentamos esconder, para de alguma forma nos sentirmos melhor com o nosso papel no universo.

DIVINA:

Não sei... Aliás, me dei conta agorinha mesmo de que coloco muito isso “não sei”, “não entendo” nos meus escritos e pode parecer que tô fazendo isso para parecer modesta, como uma espécie de truque literário ou coisa que o valha, mas não é... o fato é que eu realmente não sei e realmente não entendo...

Mas, deixando a tergiversão de lado. Estive pensando em um paralelo com isso que você disse sobre a natureza. É o seguinte: A guerra, como a natureza e respeitando-se as proporções, define muita coisa; define todo um universo humano: geografia, história, conceitos sociais, etc... e, como a natureza, não tem consciência de ser feia ou bonita...

Mas, vamos às suposições: Um civil vê um soldado estripando outro com a baioneta e acha aquilo feio, nojento, asqueroso. Um outro soldado do mesmo exército vê a mesma cena e acha maravilhoso porque é mais um inimigo sendo morto, menos um para matar a eles, soldados. De repente um historiador, décadas depois e não pertencendo ideologicamente a nenhum dos dois exércitos, vendo a mesma cena pode achá-la feia e ao mesmo tempo bonita pois o soldado da baioneta ao estripar o inimigo poderia estar salvando vários aliados já que, por exemplo, o soldado morto estava prestes a lançar uma granada em uma trincheira próxima. É um paralelo razoável, não é?

Bem, continuando, o fato de conhecer e reconhecer esses fatos (ou possibilidades de) não me faz achar que a guerra é uma coisa bonita. E aí estou falando de mim e só de mim. Você sabe que existe muita gente no mundo que adora guerra...

O mesmo digo da natureza: Outros podem vê-la de uma maneira completamente diferente da que vejo, mas isso dificilmente vai fazer com que eu deixe de ver do jeito que vejo. Mesmo reconhecendo as razões que esses outros têm para ver diferente de mim. Será que fui clara? Acho que às vezes faço muita confusão...

Quanto à liberdade, ela pode até existir da forma que você colocou, mas individualmente não existe não... EU, Divina, não posso, agora, nesse momento, parar de matar sem morrer. Não tenho essa liberdade. Não tenho muitas liberdades... Minha imaginação (e a de qualquer pessoa) consegue ir muito além do que a natureza me permite ir... Isso é fato e tem suas vantagens não tem dúvida, é graças a esse fato que nós, seres humanos, conseguimos ir tão longe em termos de civilização, em termos de tecnologia: trabalhando para chegar de fato onde apenas nossa imaginação chegou... Mas isso não faz com que a liberdade, pelo menos da forma como a entendo, exista realmente.

Nem mesmo nossa imaginação é livre, acho (e aí vai mais impressão do que certeza). Você já “sentiu” que sua imaginação está “amarrada”? Já tentou pensar em algo REALMENTE original e sentiu que sua capacidade mental não chega onde você queria? Eu sinto muito isso e acho que basta assistir aos filmes ou ler alguns livros de ficção científica pra “desconfiar” que isso não acontece só comigo: Você se lembra de que em contos do Azimov aparece escarradeira? Em 2001 eles foram muito longe mas não conseguiram imaginar um telefone portátil de longo alcance... Lembra do telefonema que o cientista faz para casa?

Enfim, talvez eu esteja dando uma definição ampla demais à palavra liberdade...

Tenho um texto que, de certa forma, fala sobre isso: O autor lembra uma musiquinha de uma propaganda antiga de calça jeans, a musiquinha dizia assim: “Liberdade é uma calça velha, azul e desbotada” e o cara diz que não, que liberdade mesmo seria não usar calças. Acho que estou meio que falando disso. Nesse mesmo texto, o autor lembra da frase-chavão “O céu é o limite” e atenta para o detalhe “Limite”; se tem limite não é liberdade.

Talvez você tenha usado a palavra liberdade em uma acepção diferente...

Agora entendi o que você disse sobre “outra vida”, aí sim, faz sentido e eu penso da mesma forma. Só que esse fato é mais uma “não-liberdade” que a gente tem: A natureza vai transformar a minha vida em outras vidas queira eu ou não.

Enfim, filhote, acho que a natureza linda é feia e, embora compreenda que outras pessoas têm razões bem plausíveis para discordarem de mim, sei que tem muito mais gente ainda que diz isso sem nunca ter pensado de fato no que estão dizendo, como é o caso de, talvez e provavelmente, da maioria dos religiosos. Eles usam a “beleza” da natureza como prova da existência e suprema bondade de deus, eu afirmo que um deus “supremamente” bom jamais criaria algo como a natureza é.

Então, quando falo do que penso a respeito da beleza da natureza, não estou tentando fazer com que pessoas que pensaram a respeito disso (como você e o meu ex-aluno Enrico que é um biólogo apaixonado) mudem de ideia, estou tentando fazer com que quem não pensou pense; e ao mesmo tempo, claro, puxando “a sardinha” pro meu lado e pra minha “cruzada antirregião”...

segunda-feira, 16 de março de 2015

FILOSOFANDO COM UMA AMIGA QUE AMO MUITO

(Ela escreveu um e-mail e falou sobre temas instigantes, ela me pediu para “filosofar” a respeito, eu atendi seu pedido)

Acho que sou uma daquelas pessoas que suportam perdas com facilidade... mas como quase nada na vida é irrevogavelmente real, suporto as perdas com "relativa" facilidade. Depende da perda, depende do que é facilidade. Coisas materiais podem se perder que praticamente nunca me doem; não lamento uma roupa que se rasgou, um sapato que furou, um carro que foi roubado, uma retirada no caixa eletrônico que coloquei no bolso errado e um ladrão de mãos muito leves levou... Não lamento também as perdas normais que vêm em consequência das mudanças; não fico deprimida porque possivelmente não vou mais caminhar por aquela rua de que tanto gostava no bairro em que morei por décadas, não lembro com tristeza o restaurante aconchegante onde estive várias vezes com os amigos de uma determinada época da vida, e – desapego mais questionável ainda na opinião de muitas pessoas – não morreria de saudade do Brasil se tivesse que morar o resto da minha vida em outro país qualquer. Não sou patriota, não sou bairrista, não tenho raízes...

Mas me lembro das pessoas. Não fico fazendo um milhão de coisas para manter o contato com alguém que ficou distante no tempo ou no espaço, e isso pode parecer o mesmo desapego que tenho com as coisas, mas não é. Das pessoas me lembro com carinho, nelas penso e a elas sempre paro para desejar alguma coisa do bem que possa existir no mundo, se é que algum bem existe... Vez em quando “envio” um abraço cheio de amor para a Vilma, a amiga que ia comigo à escola todos os dias quando nós tínhamos sete/oito anos. Não sei nada sobre ela desde que se mudou ainda na nossa infância, mas para mim ela é minha amiga hoje tanto quanto era quando a gente combinava ir para a escola de chinelo nos dias de chuva para ir andando por dentro das enxurradas e para atravessar a pé o riozinho que tinha no caminho mais comprido, que era o que a gente fazia nesses dias. Não lamento a perda dessa amizade, não a perdi.

Dizem que só os poetas conseguem ver as coisas com os olhos da primeira vez; não sou poeta, vejo muito as coisas como banalidades, ou com olhos de última vez; não última-vez-despedida-melancólica, apenas natural e saudável olhar de mudança. Sei que “nada será como antes amanhã”. Certamente minha amiga Vilma não é hoje a Vilma que conheci há tantos anos, talvez a Vilma de hoje nem se lembre da Divina daqueles tempos, as coisas mudam, as pessoas mudam e isso é natural, não lamento; às vezes fico muitíssimo brava com algumas mudanças, mas não lamento, só sinto dor se elas forem muito ruins, mas sinto dor por qualquer coisa que seja muito ruim, a dor faz parte de mim e também é natural.

Li em algum lugar a teoria de que o tempo é algo que se gasta, assim como as coisas se gastam. Da mesma forma que uma engrenagem vai ficando com os dentes gastos e cada uma de suas partes vai girando com mais rapidez por encontrar menor resistência e encaixe menos rígido, o tempo também se gasta e vai passando mais rápido. Essa teoria é colocada pela personagem Úrsula em Cem anos de solidão; ela pensa em como dava tempo de acontecerem tantas coisas antes que um filho se tornasse adulto e como naquele momento os netos de seus filhos cresciam tão rápido que não dava tempo sequer de prepará-los para a vida.

Não sei o que é o tempo, mas sei que ele não é amigo. A ideia mitológica do tempo como o pai que devora os próprios filhos é a ideia que mais me parece viável; não sei se minha sensação de que ele passa mais rápido agora do que passava antes é real, quase sempre acho que é uma ilusão porque a sensação de variação na velocidade do tempo também se sente de dia para dia, um determinado dia pode parecer muito mais curto ou longo do que outro, e a ordem desses dias mais “rápidos” ou mais “lentos” não é obrigatoriamente decrescente. Acho que o tempo seria ótimo... se a gente tivesse mais tempo, muito mais tempo.

Ao contrário do físico austríaco Erwin Schrödinger, que você diz ter afirmado ser o impossível apenas algo cujas possibilidades de existência são infinitamente pequenas, eu acredito na possibilidade do impossível. Acho, por exemplo, impossível que o deus bíblico exista, acho impossível que o ser humano possa ter uma vida eterna e individual após a morte, acho impossível que o homem se torne um animal carregado de bondade e acho completamente impossível que a vida venha a ser realmente boa para todas as criaturas do planeta.

Confirmando a impressão do “encurtamento” do tempo. As pessoas não têm mais tempo para filosofias, não conseguem mais parar um pouco para pensar no que estão fazendo e nessa massa incompreensível de concreto-abstrato em que estamos mergulhados e da qual somos parte integrante. Quanto àquele apego que temos ao passado e ao futuro, ele, como tudo na vida, tem seus prós e contras. O passado faz de nós o que somos, o futuro dirige nossos atos para o que poderemos vir a ser; portanto, ambos são necessários para que vivamos o presente, mas podem prejudicar esse mesmo presente caso a gente se apegue demais a um ou ao outro. É a cultura do meio termo que quase sempre parece tão lógica e saudável.

Só se pode comer geleia agora se ela tiver sido preparada no passado e só se poderá comer da geleia amanhã se ela for preparada hoje. Isso parece lindo como uma lição de autoajuda de livros babacas como o tal Quem mexeu no meu queijo? mas podemos ser menos superficiais e mais realistas se nos lembrarmos de que chegará o dia em que não poderemos mais comer geleia nenhuma. E o que é mais triste: por mais que se tenha preparado geleia no passado, muitos – muitos mesmo – não podem comê-la hoje e, por mais geleia que se prepare hoje, muitos – muitos mesmo – não a poderão comer amanhã. Quem diz que a vida é linda é porque está olhando apenas para o próprio umbigo.

Será que nosso passado faz mesmo com que acumulemos sabedoria? Sou uma pessimista de carteirinha e não acredito nisso; individualmente, em alguns poucos casos sim, mas como raça, como grupo, seguramente não. O Chico Buarque afirma “Não sou eu quem repete essa história é a História que adora uma repetição” e eu acho que ele tem razão; depois de tantas guerras ao longo de séculos, ainda existem guerras e o mundo nunca esteve em paz; depois de tanto acúmulo de conhecimento ainda não aprendemos a ver o outro como um ser humano igual a nós; depois de tantas religiões pregando o amor ainda sabemos odiar muito melhor do que amar; depois de tanto dizer que aceitamos a chantagem de sermos bons aqui para sermos premiados na outra vida, ainda roubamos de quem não tem nada, ainda torturamos o outro e ainda chamamos assassinato de esporte. O que acho é que acumulamos um pouco de conhecimento, talvez até muito dependendo do critério que usarmos para avaliar essa quantia, mas não adquirimos sabedoria nenhuma.

Planejar o futuro, ter esperança no futuro, acreditar no futuro... Essas são as necessidades que temos em função da preservação da vida; não fosse esse “olhar voltado para o futuro” nós saberíamos que a vida não vale a pena, haveria suicídio em massa, nos recusaríamos a trazer outro ser humano para esse circo de horrores e aconteceria a extinção da raça humana, simples assim. Precisamos do futuro para existir como raça, isso deve estar implantado em nossos genes ou em algo subjetivo e imaterial que forma o que somos, se houver isso. A vida dá prioridade à vida, e a vida da raça humana depende de os indivíduos em sua maioria acreditarem que o futuro será melhor do que o presente.

Eu, que não acredito em nada, também não acredito nesse futuro utópico. “As coisas quanto mais mudam mais iguais ficam”. Acho que no futuro ainda pode ter outro (ou outros) holocausto; outras queimas de infiéis condenados por outro (ou outros) “santo tribunal”, outros Hitlers, Gengiscans, Maos e Francos sendo seguidos, servidos e louvados por outras massas prontas a eliminar qualquer manifestação contrária. Mas, para não levar o pessimismo a um radicalismo nocivo, pode ser também que no futuro caia outro (ou outros) muro de Berlim, que nasçam e vivam outros Gandis, outros Betinhos, outros Martin Luther Kings, outros Mandelas. Eu gostaria, como quase todo mundo, que só a segunda parte dessas possibilidades acontecesse, mas o que dentro de mim por acaso insistir que assim acontecerá será aquilo que existe na gente para evitar o fim da raça humana, não será nada lógico e nada minimamente provável.

Taí, Minha querida amiga, pensei a respeito.

RESPOSTA A UM TEXTO QUE PEDE AOS POLÍTICOS PELA PENA DE MORTE NO BRASIL

E vamos apelar logo aos políticos em favor da pena de morte?????????????

A essa "comunidade" que abriga muitos dos financiadores e grandes cabeças criadoras de "seres humanos" como os que arrastaram o garoto????????????

Em um país que vota em bandido, acoberta bandido e admira bandido (desde que seja branco, rico e tenha nível superior!), eu jamais arriscaria sequer a pensar na hipótese da pena de morte, ainda mais orquestrada por bandidos que deveriam ser os primeiros na fila para a execução.

Ou será que essa moça tão revoltada não sabe que é no congresso, no senado, nas câmaras e prefeituras que estão os maiores chefes do crime? Aqueles que não matariam uma criança de seis anos, mas que têm muitos assassinos do tipo que faria isso e mais ainda na sua folha de pagamento? Ela não sabe que entre esses políticos estão grandes magnatas do tráfico, do jogo, do roubo? 

Nunca passou pela cabeça dessa moça que talvez se esses senhores fossem pessoas um pouquinho só decentes e humanas a cidade do Rio de Janeiro não seria essa praça de guerra e o Brasil não seria esse país onde miseráveis sem emprego, sem educação e sem esperanças aprendem a deixar de serem humanos enquanto os "senhores políticos" dobram os próprios salários e mandam seu dinheiro, quase sempre sujo, para as contas protegidas dos paraísos fiscais ou investem na bolsa ao invés de investir em empreendimentos que possam gerar emprego e progresso?

É bonitinho ser revoltada contra o crime da vez, aquele que está na primeira página de todos os jornais e revistas, e esquecer que crimes tão grandes, ou maiores, (se é que se pode medir gravidade de crimes!) estão sendo cometidos todos os dias e desde sempre. É bonitinho ser revoltada contra o crime da vez sem lembrar que as pessoas não só esquecem esses crimes poucos dias depois como fazem questão de ser alienadas e, quando precisariam realmente tomar uma atitude válida, não prestam atenção, não somam dois mais dois e votam nos verdadeiros responsáveis por eles. Esses “revoltadinhos”, a cada eleição, dão aos grandes criminosos a tarefa de criarem leis e governarem cidades, estados e país!

Pode ser que eu pense na possibilidade de me manifestar a favor da pena de morte no dia em que as celas das prisões abrigarem também os bandidos brancos, ricos e com nível superior; nas mesmas celas superlotadas e imundas e atendidos igualmente pelo mesmo sistema, sem privilégios e sem “prisão especial”.

Enquanto viver em um país que só pune preto, pobre e gente humilde e humilhada de muitas gerações, enquanto viver em um país cujo sistema penal não é confiável e está nas mãos de policiais e juízes corruptos e parciais, enquanto viver em uma sociedade preconceituosa, elitista e hipócrita eu, Divina, serei TOTAL e COMPLETAMENTE contra pena de morte! E sou contra, ainda mais, a atitude dessa moça sem noção que apela para bandidos a fim de conseguir uma pena capital que não atingirá os piores bandidos e que certamente será usada por eles para matar também pessoas inocentes!

sábado, 14 de março de 2015

RESPOSTA A ALGUÉM QUE DISCORDOU DE UM DOS MEUS TEXTOS “PESSIMISTAS”

CONCORDO! O homem é “capaz de criar e destruir, ser bondoso e maldoso”. Parte disso é sim “apenas uma questão de escolha”, mas nem tudo. E a “maturidade”, no sentido de só escolher o certo, é algo que o ser humano jamais vai atingir. Isso tudo que você diz decididamente não faz do ser humano nenhuma maravilha, muito pelo contrário.

Encararmos os problemas dos outros como oportunidade de ajudar pode parecer bonito, mas é na verdade uma postura extremamente egoísta além de ser uma impossibilidade. Nenhuma pessoa consegue ajudar todos os que sofrem. Claro que podemos e devemos ajudar; claro que é ótimo quando conseguimos fazer alguma coisa e ajudar alguém, mas o sofrimento das pessoas NÃO PODE ser uma utilidade para mim! Seria como eu dizer “Que bom que existem os que sofrem, assim eu posso ser boazinha!”, desculpe mas eu me sentiria um lixo de pessoa se pensasse dessa maneira!

O sofrimento dos outros, para mim, é algo terrível, que não deveria existir. É uma das coisas que fazem com que a vida NÃO seja maravilhosa. Sim, faço tudo que posso para diminuir o sofrimento quando o tenho diante de mim e quando posso ajudar, mas com a consciência de que o que posso fazer é TÃO POUCO que me sinto impotente e dolorida, incapaz de ver qualquer vantagem ou beleza nisso.

E o meu próprio sofrimento? Quando sofro odeio sofrer, aprendo mais com sorrisos do que com lágrimas. Não quero, não gosto e não louvo lições através do sofrimento. Apanhei muito quando era criança - e uma única vez já seria suficiente para eu dizer que foi muito - mas também tive muito amor e demonstrações de carinho. 


As demonstrações de carinho foram, a meu ver, lindas oportunidade de aprender e eu desfrutei e guardei esses “bons momentos com a alegria de uma criança nos braços sua mãe”. A lembrança deles me adoça a vida ainda hoje. Quanto às surras acontece o contrário, odiei cada uma delas, senti raiva, impotência e uma vontade imensa de me vingar.

Fui uma criança muito má quando me bateram porque sempre me vingava aprontando uma. E às vezes minhas vinganças não faziam bem nem mesmo para mim. Roubei dinheiro dos meus pais só para sumir com ele, joguei fora coisas que meu pai ou minha mãe tinham para que sentissem minha perda, fugi de casa correndo riscos reais, roubei e tomei comprimidos que eu não sabia para que serviam com a intenção de ficar doente e fazê-los se arrependerem. A raiva e a impotência me faziam agir, e eu agia! Não aprendi nada com isso porque se apanhasse agora sentiria a mesma coisa e a mesma vontade de me vingar.

SIM, a natureza é neutra e destituída de propósito, mas se tem horrores (e tem muitos!), por mais destituída de propósito que seja, ela é sim terrível. Como já disse o Neil de Grace Tyson (se não me falha a memória) “A NATUREZA QUER TE MATAR!” Isso não é ser maravilhosa - mesmo sendo “ela mesma”. Isso é ser terrível sim! Se existisse um deus criador, a natureza seria a criação e o divertimento de um sádico doentio. Em não existindo deus, a natureza é uma cadeia de horrores camuflada com maravilhas de cores, sabores, texturas, sons e cheiros. Isso decididamente faz dela um horror, não uma maravilha.

É verdade: Deus não poderia ser terrível! Isso porque ele não existe! Mas, se existisse, seria o superlativo do superlativo de um sádico doente.

Pode ser que a morte e o pânico sejam processos necessários, mas eu não vejo por que devo achar algo bom pelo simples fato de ser “necessário”. A injeção dolorida, o remédio que causa enjoo, a amputação de um membro gangrenoso são “processos necessários” e nenhum deles é bom.

A dor, a doença ou a mutilação podem até ser vistas como “bom” no sentido de serem necessárias naquele momento para evitar um mal maior, mas bom é aquilo que dá prazer e, nesse sentido, chamar essas coisas de “bom” é algo que apenas os sádicos ou masoquistas conseguem fazer. Não sou nenhum dos dois. Digo EXATAMENTE a mesma coisa sobre o pânico e a morte.

VERDADE! A velhice “É um processo natural que nosso corpo passa”. Sim, sem dúvida, mas o fato de ser natural NÃO PODE em si e por si torná-la menos terrível. Acho até engraçado isso de as pessoas sentirem necessidade de fantasiar que é bom tudo aquilo que não podem mudar, por pior que aquilo seja. Para mim isso não faz o menor sentido. Não preciso ser uma velha amarga e negativa para dizer que a velhice é uma merda, assim como não preciso ser uma suicida em potencial para dizer que a vida é ruim.

Você não tem por que ficar triste em saber que é nisso que acredito. Aprendi a ser realista o suficiente para ver as coisas como elas são sem sofrer com isso mais do que o normal. Acho que você tem razão quando diz que vai ser muito difícil que eu mude minha forma de pensar. Chegar às conclusões a que cheguei me custou muita leitura e muitas horas de pensamentos e observações, fazer isso sem perder o interesse por existir foi um processo de amadurecimento que ainda me surpreendo de ter conseguido.

Além disso nunca vi, ouvi ou li nada que contrariasse realmente minhas opiniões. Caso apareça algo convincente, posso mudar de opinião, claro, mas acho extremamente próximo do impossível que isso aconteça, da mesma forma que acho próximo do impossível deixar de ser ateia. Mas vou dar uma olhada no seu site: sou curiosa.

Eu não acredito que “o mundo é apenas uma questão de perspectiva”, acho que o mundo e a vida são o que são independente da perspectiva com que os encaremos, esse modo de ver pode fazer diferença para a pessoa ou para a humanidade, não para o mundo. E sim, o mundo pode ser um lugar melhor de se viver, mas até onde eu sei, ao longo da história isso tem acontecido apenas em alguns lugares e alguns momentos, no futuro e no todo não vejo possibilidade de que isso mude e o mundo inteiro se torne melhor. Mesmo assim acho que vale a pena, e muito, a gente continuar SEMPRE tentando e trabalhando para tornar o mundo melhor, mesmo que seja o “mundo” nossa rua, o "mundo" nossa vila, o "mundo" nossa família, o "mundo" uma única pessoa, não importa, sempre é algum mundo e sempre vale a pena torná-lo melhor.

Não acho que a gente possa transformar a decepção em oportunidade de evoluir, acho que o que a gente faz - e às vezes funciona mas não sempre - é deixar a decepção de lado, arregaçar as mangas e fazer de outro jeito. Nesse caso nem vejo a decepção como força motriz, acho que a força motriz é a necessidade de sair dela, é o instinto de sobrevivência que não nos permite desistir. Isso às vezes consegue maravilhas. Por essa razão a vitória que muitos conseguem quando colocam pra funcionar sua capacidade de "dar a volta por cima" não pode ser desprezada e é bom que aconteça; mesmo que a gente se engane pensando que a decepção foi a mola motriz. 

Mas às vezes a decepção não tem resultado nenhum, ou até piora tudo. A vida não é previsível por mais que os astrólogos e videntes digam o contrário.


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E depois de tudo que escrevi acima você me responde dizendo que sou maluca? Pode até ser que eu realmente seja um caso de psiquiatria; dizem que os loucos nunca se acham loucos, como não me acho louca, pode ser que você esteja certo. Não tenho como saber, não é?

Você diz que “Se os humanos pensassem desse jeito não estaríamos aqui agora” e eu concordo TOTALMENTE com você, por isso falei do instinto, que para mim todos temos, de achar que a vida é boa (ou vai ficar) independente de qualquer circunstância, por mais terrível que seja. 

Você fala do Dawkins; gosto muito dele e concordo com muita coisa que ele diz, até mesmo quando ele diz que ganhamos na loteria da vida eu estou de pleno acordo, e quanto a mim, acho que ganhei na loteria da vida VÁRIAS vezes: Ganhei por ter nascido, ganhei por ter nascido inteira e saudável, ganhei por ter nascido em uma família que me quis e sobreviveu para me criar, ganhei por ter nascido em um lugar e em uma época que não foi assolada por guerras, catástrofes ou doenças que me impedissem de crescer, de estudar, de ter uma família, de ser feliz. Quantas pessoas que nasceram, desde que o ser humano desceu das árvores, ganharam na loteria da vida tantas vezes quanto eu?

Nossa, eu assino embaixo! Fico arrepiada com esse fato e acho fantástico e mais do que concordo com cada palavra do que você diz aqui “Somos o universo pensando sobre si mesmo, somos poeira das estrelas, fazemos parte do universo com a grande vantagem de termos um cérebro pensante e investigativo e que pode se deliciar com o belo e superar as frustrações”, é isso mesmo! São maravilhosamente fantásticos esses fatos; são comoventes! Ditos ou escritos por várias pessoas sempre me comovem. Portanto, não estou, com meu texto, tentando desmentir Carl Sagan, Marcelo Gleiser, Neil degrasse Tyson ou qualquer outro cientista que de uma forma ou de outra disse (com embasamento) frases lindas e verdadeiras como essa.

O que digo é que a VIDA não é boa e não é linda porque, se a gente olhar de perto, para a grande maioria das pessoas que vivem e que já viveram, ela está e sempre esteve cheia de sofrimentos e dores; em muitos casos sem que algum momento de verdadeira alegria aconteça em meio a toda a dor. 

Para que a vida possa ser definida como boa, na minha opinião, ela tem que ser boa para todos, não apenas para mim e para um número X de pessoas sempre abaixo da maioria. É o mesmíssimo argumento que uso quando nego a possibilidade de existência de um deus bom e justo, ou quando nego que a natureza é pura maravilha e perfeição: ou é para todo mundo ou não é, ou vale para o todo analisado ou não vale! 

Eu me excluí como número a ser considerado para fazer essa análise, me excluí para ser honesta e imparcial, e me excluí porque - como você - eu faço parte da minoria que ganhou muitas vezes na loteria da vida. A maioria das pessoas não ganhou tanto assim. Muitos ganharam AINDA menos do que pouco, ganharam apenas a vida e nada mais. Devo mesmo comemorar e achar isso maravilhoso?

E sim, meu amigo, eu consigo, eu posso e eu sou muito feliz “apesar” de pensar assim, e posso fazer isso porque quando tentei responder a pergunta que fiz lá em cima: “A vida é boa comparada com o quê?” a resposta que obtive foi que não tenho nada com o que possa comparar. A resposta foi que, embora possa imaginar algumas possibilidades muito lindas e fantasiosas de vidas mais lindas, mais prazerosas e mais perfeitas; na minha realidade não há nada melhor do que ESSA vida. Pelo menos não há nada que eu conheça ou que possa conhecer.

Portanto é essa vida que tenho e é essa que posso e vou aproveitar e beber até a última gota. Ganhei em muitas loterias, as loterias não são justas e não premiam todo mundo, mas, como não participei do sorteio nem trapaceei, não tenho responsabilidade nem culpa por ela ser como é. Então estive, estou e vou continuar até o último dia, aproveitando ao máximo o meu prêmio. Não acho que isso seja pessimismo ou doença psiquiátrica, acho que é uma maneira mais funda de olhar a realidade.

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Então esse amigo tomou meu texto como total concordância e contou como ELE é feliz, como a vida dele é maravilhosa e como pretende morrer louvando a vida para ser exemplo para as filhas. Ele positivamente não entendeu o que eu disse sobre me excluir da análise para ser imparcial. Então eu reforcei essa ideia e disse a ele que se fosse falar da MINHA vida concordaria com quase tudo o que ele disse e que provavelmente usaria muitas das mesmas palavras que ele usou, mas que - como não é da minha vida que estou falando - não mudo uma vírgula no meu texto e continuo sim, pensando que a vida é ruim e que a natureza é feia e terrível.

Não posso colocar aqui nem o texto dele nem a minha resposta porque quando voltei ao Face eu já não estava mais no grupo, e não tinha mais esse amigo entre meus contatos. Não o critico por ter feito isso. O grupo é dele e ele tem todo o direito de admitir ou excluir do seu grupo e da sua página quem bem quiser. Só queria que mais gente comentasse essa minha opinião sobre a vida. Sou mesmo caso de psiquiatra?

RESPOSTA A UMA PESSOA QUE DISCORDOU QUANDO EU DISSE QUE A VIDA É RUIM E A VELHICE É UMA MERDA

Eu não concordo muito com essa frase sua: “seria um contrassenso não aceitar a realidade” e acho que, na prática, ninguém concorda. O ser humano tem toda uma história de invenções e avanços tecnológicos que, em grande parte, foram conseguidos justamente na tentativa, às vezes bem sucedida, de mudar a realidade.

Mas, em se tratando de coisas mais pontuais, que têm relação mais direta com o que estamos conversando, como a vida, a morte e a velhice, então eu vou concordar com você sim, e muito. E digo que aceito muito bem a realidade; aceito tanto que sou ateia, ou seja, não tenho apego a uma entidade mágica “capaz” de mudar essa realidade para meu conforto. Porém – e esse é o ponto fundamental para mim – aceitar a realidade não tem que significar obrigatoriamente louvar essa realidade como algo maravilhoso, ou mesmo como algo bom. É essa minha postura: nada tem que ser bom só porque é real. Aceito, mas vejo tudo como aquilo que "realmente" é: REALIDADE; e não como uma maravilha.

Eu também considero privilegiadas as pessoas que conseguem alcançar a velhice! Mas isso em muitos casos, não em todos. Entendo por velhice qualquer idade que tenha uma pessoa que se julgue e que se sinta velha, eu sou velha. Agora, “idade avançada” já não me sinto capaz de definir...

Será mesmo que “até nisso a vida é boa! Porque nos tira o ímpeto, a força e a beleza da juventude, e nos dá a maturidade necessária para compreender tais limitações” ? Falando sério, nem ligo muito para a tal beleza, mas o ímpeto e a força – ao menos o ímpeto de aprender e descobrir e a força de colocar um pé diante do outro – essas coisas eu gostaria de conservar até o fim, e acho que, nesse ponto, todo mundo pensa exatamente como eu. Já li em muitos “elogios” que as pessoas fazem sobre a velhice o que elas próprias planejam para si, e NUNCA vi ninguém elogiar e desejar – embora muitos velhos tenham – o travamento dos movimentos, a perda da memória, a ausência de entusiasmo. Portanto, acho que a tal “maturidade necessária para compreender tais limitações” de que você fala tem suas limitações.

Sério que “as possíveis doenças pelo desgaste natural” não devem ser motivos para tristeza? Velho ou jovem, sempre vou achar que gostar de doença é coisa de masoquista, desculpe mas as doenças da velhice são um horror sim, são terríveis para os que as têm e são terríveis para os que estão próximos e que amam e se importam com aquela pessoa, e isso independe - embora possam ser MUITO agravadas - da estabilidade financeira da pessoa. Claro que a intensidade da tristeza depende da doença, mas não deixa de existir. Uma gastrite crônica pode ser menos terrível do que um câncer, mas isso não significa que devemos ficar felizes sempre que temos gastrite. Claro que estou dando dois exemplos meio genéricos e meio radicais, mas o fato é que doença NÃO é um bem e nenhuma é tão sem importância assim.

Desculpe, desculpe e desculpe novamente, mas essa sua frase me causa arrepio! “Neste caso, a tristeza não deve ser por causa da idade, e sim, pela nossa própria incompetência”; Nossa! Então você acha mesmo que TODAS as pessoas que envelhecem e que não têm condições financeiras suficientes para viver “confortável” são incompetentes? Nem consigo dizer o quanto essa frase me parece absurda.

Acho muito legal encarar a vida como ela é, mas acho que não é bem isso que você está fazendo. Sim, é só uma opinião minha e não vale nada, mas, como eu disse no meu texto “acredito que estou certa, claro”, e na minha visão, encarar a vida como ela é significa aceitá-la como natural, vivê-la da melhor forma possível, aproveitar ao máximo o que ela tem de bom, não esquecer que o outro é como eu e merece TODO respeito e – esse é o ponto em que praticamente ninguém concorda comigo – não mentir para si mesmo dizendo que a vida é maravilhosa quando é óbvio que ela não é.

Parece que para você “compreender o que seja a realidade da vida” é achar tudo lindo e ficar feliz porque “estou vivo e tudo é maravilhoso”. Para mim, compreender a realidade é ver que “é assim que funciona”, é tirar proveito de tudo de bom que a vida tem, é dar o melhor que puder de mim ao outro porque o outro é sempre meu companheiro de infortúnio e não meu inimigo. 

E compreender a realidade é fazer tudo isso sem se enganar com mentiras confortáveis e sem transformar desejos e esperanças em certezas sem evidências. Não sei se isso é maturidade, mas é assim que vivo.

Não, não acho que “A vida é maravilhosa quando compreendemos todos os estágios e os acontecimentos”, acho que quando fazemos isso vemos que a vida NÃO é maravilhosa, mas que, até prova em contrário é o que temos. Não, não acho que “As lutas, as perdas, os ganhos... tudo isso torna a vida bela” e nem acho que se “Não fosse isso, aí sim, a vida seria chata, monótona”, não acho porque não temos experiência do que seria uma vida sem “As lutas, as perdas, os ganhos...”, não há outro tipo de “vida” com que possamos comparar para que possamos afirmar isso que você afirma. 

Mas minha imaginação consegue me dizer que, se houvesse uma vida sem horrores, derrotas e perdas, essa vida seria sim muito melhor!

sexta-feira, 13 de março de 2015

RESPONDENDO ARGUMENTOS DE UM HOMOFÓBICO “SEM PRECONCEITOS”

HOMOFÓBICO SEM PRECONCEITO: Somos obrigados a defender essas pessoas...

DIVINA: Não somos obrigados, somos chamados a usar nossa inteligência, despir nosso preconceito e parar de ignorar seres humanos que, como todos nós, merecem respeito. Em lugar de ficar falando “essas pessoas” como quem cospe, deveríamos atentar para a realidade assustadora da violência que esses seres humanos sofrem. Violência pela qual você e seu preconceito são responsáveis.

HOMOFÓBICO SEM PRECONCEITO: Não precisamos de uma lei só para os homossexuais, não precisa defender um grupo se tem lei pra todo mundo...

DIVINA: Então temos que acabar também com o Estatuto do Menor, com as Delegacias da Mulher, com as leis do inquilinato, com os sindicatos de trabalhadores, as Constituições... são todos órgãos e leis que defendem grupos quando já há a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que protegem a totalidade das pessoas. Você não pensa dessa forma quando procura o PROCON, pensa?

HOMOFÓBICO SEM PRECONCEITO: A lei contra a homossexualidade é milenar e partiu do Vaticano...

DIVINA: A lei que colocava as mulheres na fogueira também é milenar e também partiu do Vaticano, vamos restaurá-la? O próprio vaticano já revogou algumas de suas leis, como a de que dizer que a terra não é o centro do universo é heresia. Ou seja, até o Vaticano, apesar da tacanhice religiosa que impera, já modificou algumas de suas posturas obviamente absurdas, só os preconceituosos de plantão não admitem fazer o mesmo. Masturbam-se, usam anticoncepcionais, casam de branco sem serem virgens... tudo contrariando determinações da igreja, mas não aceitam um ser humano como ser humano para não ir contra determinação da igreja. Santa hipocrisia, Batman!

HOMOFÓBICO SEM PRECONCEITO: Um homossexual pode atacar uma criança...

DIVINA: É a hipocrisia do preconceito tomando as falas de novo! Repita comigo: HOMOSSEXUAL E PEDÓFILO NÃO SÃO SINÔNIMOS! Se alguém, homo ou hétero, homem ou mulher, padre ou ateu, jovem ou velho, preto ou branco, ameaçar de alguma forma, física ou verbalmente meu filho, meu sobrinho, meu vizinho, meu aluno... eu tenho mais do que direito, eu tenho o dever de acionar a lei para defender essa criança ou esse jovem. Daí a ser contra todos os homens porque um homem tentou roubar alguém ou ser contra todos os ruivos porque um ruivo atacou alguém é coisa que só quem não usa sua massa cinzenta pode pensar em fazer.

HOMOFÓBICO SEM PRECONCEITO: Ninguém tem o direito de impor que se aceite a homossexualidade, isso vai contra o direito de liberdade e pode mudar os costumes da sociedade...

DIVINA: É mesmo, né? Vamos ser democráticos e deixar de impor a aceitação dos direitos humanos, do respeito ao próximo, do respeito às leis, da não invasão de propriedade. Afinal, tudo isso não está tirando a liberdade de quem quer atacar à vontade todos aqueles que acham merecedores de serem atacados? Usar talheres às refeições também mudou os costumes da sociedade, vamos lutar contra isso?

HOMOFÓBICO SEM PRECONCEITO: As leis são feitas pelo povo, casamento gay não deve ser legalizado.

DIVINA: É, as leis são feitas pelo povo. Eu mesma já fui chamada para votar, primeiro a Constituição, depois a queda da CPMF, você não foi? Ah, sim, e estupro é considerado crime porque eu fui convocada, como cidadã, a dar a minha opinião a respeito e assim escolhi. ACORDA, CARA! As leis são sim feitas pelo povo, via seus representantes, e são mais justas e mais humanas à medida que esse povo é menos preconceituoso e mais racional.

HOMOFÓBICO SEM PRECONCEITO: Eu não tenho que aceitar qualquer tipo de pessoa nos lugares que frequento...

DIVINA: Genial! Vamos voltar à escravidão! Vamos institucionalizar a xenofobia! Por que eu tenho que aceitar um negro convivendo comigo? Por que tenho que aceitar um carioca passeando na Avenida Paulista? Por que tenho que aceitar um paulista sentado em um banco escolar junto com meu filho? Por que aceitar “esse tipo de gente” tendo direito de votar, de entrar em locais públicos, de se registrar e ter documentos como se fossem iguais? Por que não aceitar as diferenças, expulsar os “estrangeiros” e devolver os negros às condições que tinham no século XVIII? E já que estamos falando nisso, por que não retomar mais um dos “bons costumes cristãos” e proibir também a mulher de votar, de trabalhar fora, de decidir quantos filhos quer ter, de falar na igreja, de andar pelas ruas sem a companhia de um homem? Afinal, você não tem que aceitar mulheres desacompanhadas, independentes e livres nos lugares que frequenta, certo? Será que falando assim você consegue perceber o quanto seu argumento é idiota ou precisa desenhar?

HOMOFÓBICO SEM PRECONCEITO: Que sejam o que quiserem, mas ir à igreja nem pensar...

DIVINA: Igreja é, que eu saiba, uma instituição feita para ser frequentada por PESSOAS que creem em uma entidade superior e se sentem bem diante daquela doutrina. Não gosto de igreja e de religião justamente porque desde sempre são podadoras de raciocínio, mas que eu saiba todas as PESSOAS têm o direito de ter uma religião e de frequentar a igreja ou templo que pratique os rituais de sua fé. E, pelo menos que eu saiba, homossexuais são pessoas. Sei que tem bastante gente que defende que a igreja tem o direito de recusar quem não se enquadra nos seus dogmas, mas eu, embora não consiga entender por que cargas d’água um homossexual quer frequentar uma igreja, acho que está mais do que na hora de as igrejas serem proibidas de manifestar preconceito e barrar a entrada de pessoas, os restaurantes não são?

HOMOFÓBICO SEM PRECONCEITO: Somos pessoas decentes, não toleramos imoralidade...

DIVINA: Por que o Senhor Renan foi inocentado? Por que o senhor Collor não foi preso? Por que centenas de padres pedófilos foram acobertados pelo papa que os católicos adoram como se fosse um deus? (agora ex-papa) Por que criminosos são eleitos vereadores, prefeitos, deputados, governadores, senadores e presidentes? Por que uma autoridade permite que se coloque uma mulher em uma cela junto com uma vintena de homens e ainda consegue culpar a mulher pelo fato já que ela não disse que “era de menor”??? Por que existem pessoas que se acham superiores às outras e se arvoram o direito de determinar quem essa outra pessoa, mesmo sendo um completo estranho, tem o direito de amar? Em um mundo em que ser homossexual é imoralidade e ser cúmplice de pedófilos ou explorador da fé alheia é ser santo, eu duvido muito de “pessoas decentes”.

HOMOFÓBICO SEM PRECONCEITO: Eu não sou homofóbico...

DIVINA: É sim! É homofóbico, é preconceituoso, é irracional, é tendencioso, é hipócrita e é burro!

CONVERSA COM UM AMIGO CRENTE

Amigo: Pena que você não consegue sentir... é tão bom...

Minha resposta: Pra mim, sentir deus não seria bom. Seria sentir a suprema injustiça e só me daria raiva, muita raiva. Eu odiaria deus se visse a mínima possibilidade de ele existir. Felizmente estou livre disso e posso viver em paz.

Amigo: Mas mesmo assim você é feliz, não é? Você é capaz de se sentir bem? de ver um por do Sol e achar bonito? De ver uma criança sorrindo e aquilo te fazer bem de alguma forma? Você é capaz de dar carinho e aconchego a alguém e se sentir bem com isso? Você gosta da sensação da alegria? Saber de uma boa notícia e ficar eufórica e feliz? Isso que é o mais importante. Se não você se transforma em uma pessoa amargurada. Não precisa acreditar em Deus, mas acredite em energia pelo menos. Isso é ciência...

Minha resposta: Eu consigo tudo isso. E sim, no geral sou muito feliz. Mas se eu acreditasse que minha felicidade foi dada por deus, eu teria que acreditar também que a infelicidade de milhões de pessoas foi dada por deus, e eu o odiaria por dar a mim o que negou a tantos. Não sei gostar de injustiça mesmo se for favorecida por ela.

DISCORDANDO DE ARGUMENTOS CONTRA A DESCRIMINALIZAÇÃO DO ABORTO - 2

1 - Hoje em dia só engravida quem é mesmo irresponsável. Promovendo o Planeamento Familiar não é preciso despenalizar o aborto. 

- Que legal! A segurança dos contraceptivos agora é de 100%! E o papa já autorizou o uso de camisinha! TODAS as mulheres do planeta têm acesso às informações e às pílulas e podem usá-las, inclusive aquelas que são estupradas e abusadas; e nunca, nunca mesmo, acontece de um casal de jovens se deixar levar por um momento de loucura. Você mesmo, quando jovem, nunca fez nada de que pudesse se arrepender em seguida, certo? Cara, em que mundo você vive? 

2 - Fazer um aborto é um atentado contra a vida humana. 

- Ter uma criança sem ter condições de cuidar dela, sem poder ampará-la, sem poder alimentá-la e, pior ainda, sem ter capacidade de amá-la não é um atentado contra a vida? Obrigar uma pessoa nessas condições e ter uma criança não é um atentado contra DUAS vidas? Lembrando: aborta-se um aglomerado de células que, embora tenha potencial para vir a tornar-se uma criança, AINDA não é uma criança, mas abandona-se uma criança MESMO, uma criança real, completa, nascida. Qual dos dois é o maior atentado à vida? Por que você suporta a existência de crianças abandonadas e de mães que não podem cuidar dos filhos e não suporta o aborto? Desculpe, mas o nome disso não é hipocrisia? 

3 - Nenhuma mulher foi parar à prisão por ter recorrido ao aborto. 

- E quantas tiveram todo o seu futuro comprometido, toda a sua juventude abortada por terem sido obrigadas a levar adiante uma gravidez que não tinham condições de assumir? E quantas morreram por ter feito aborto em clínicas clandestinas, sem assistência e sem higiene adequada? E quantas morreram por ter, no auge do desespero, provocado o próprio aborto com coisas como agulhas de tricô? Quantas das crianças que a gente encontra jogadas pela rua não estariam lá se a mulher que as gerou sem ter como ser mãe tivesse tido acesso ao aborto? Será que vale mesmo a pena deixar que nasçam pessoas para apenas sobreviver em estado de total abandono? Será que vale mesmo a pena deixar que nasçam pessoas para que existam unicamente para estender a mão onde você deposita uma moeda e sai feliz porque ”comprou” com ela o seu lugar no paraíso? Seu paraíso, sua crença na própria bondade, seu exercício de “obedecer a deus” ajudando os miseráveis em troca da eternidade valem mesmo tanto assim? 

4 - Um feto é uma "pessoa", semelhante a nós, com iguais direitos. 

Quanto você conhece de biologia para fazer essa afirmação? Por que quando há um aborto espontâneo nos primeiros meses de gestação não se faz atestado de óbito e não se dá um nome ao ser? Será que isso não significa que essa sua afirmação de “semelhantes a nós, com iguais direitos” é apenas uma mentira mal elaborada? Você sabe que podemos legalizar o aborto de embriões? Você sabe a diferença entre embrião e feto? Você sabe em que momento da gestação é formado o sistema nervoso? Você sabe que antes de o sistema nervoso ser formado não há como aquele aglomerado de células ter qualquer tipo de sensação de dor? Que tal fazer uma pesquisa ANTES de sair falando sobre algo tão importante? 

5 - O aborto legal deixa as mulheres à mercê de todo o tipo de pressões. 

E a imposição de levar adiante uma gravidez indesejada, de colocar no mundo um filho que não pode criar e que não tem condições de cuidar, amar e proteger não é pressão nenhuma, certo? O terror de se sujeitar a ser atendida em clínicas clandestinas, de se deitar em mesas suspeitas e de ser atendida por pessoas que não estão capacitadas e que só querem o seu dinheiro sem se importar com sua vida não gera nenhum tipo de pressão, não é mesmo? Como alguém consegue fazer uma afirmação tão hipócrita? 

6 - O aborto legal vai congestionar os serviços de saúde. 

Ah, bom! Então o fato é que você quer que as mulheres desesperadas deixem em paz os hospitais (que são tão bons e atendem tão bem!) para que só os “privilegiados” tenham direito a atendimento! Assuma então que você não é a favor da vida coisa nenhuma, diga de uma vez que o que você quer mesmo é que deixem lugar para você na fila dos hospitais públicos. Aproveite e diga também que você é tão pouco inteligente e tão pouco informado que nem sequer consegue perceber que a gravidez indesejada, os abortos clandestinos e os auto-abortos forçados pelo desespero geram muito mais problemas de saúde, e consequentemente congestionam muito mais os serviços de saúde do que o aborto legal faria. 

7 - A despenalização do aborto vai provocar o aumento do número de abortos. 

O que provoca o aumento do número de aborto é a falta de uma educação adequada, é a falta de assistência psicológica e material às famílias de baixa renda e aos jovens, é o entrave dos dogmas e imposições das religiões que proíbem o uso de camisinha e impõem aos jovens uma abstinência que vai contra sua índole, seus hormônios, sua saúde e seu meio social. A despenalização do aborto, o investimento na educação e o estado realmente laico com a igreja fora de decisões legais que não lhe dizem respeito, isso sim são coisas que contribuiriam para diminuir o número de abortos. 

8 - O aborto é um pecado. É mau e imoral. 

Pode ser um pecado de acordo com a SUA religião. Se esse é o caso então VOCÊ não deve fazer aborto, caso queira seguir os preceitos da SUA religião. Mas o que a SUA religião determina não deve ser imposto a todas as pessoas. Você não tem o direito de impor A SUA religião e a SUA crença religiosa a um país inteiro. Isso é simplesmente DESONESTO. 

9 – É fácil falar em abortar, afinal você já nasceu. 

Que argumento estúpido! Então quer dizer que quem não nasceu pode falar em não abortar? Será que não é óbvio que só quem já nasceu – e ainda não morreu – pode dizer, pensar e defender QUALQUER COISA? Por que será que esses “pró-vida” aceitam que um ser cujo cérebro parou de funcionar deixou de ser um ser vivo e não aceitam o fato de que um aglomerado de células que ainda não tem cérebro não é uma pessoa? Em contrapartida a mulher, essa sim já nasceu, tem um cérebro em pleno funcionamento e, portanto, é uma pessoa. É ela que tem direito a ter opinião. 

DISCORDANDO DE ARGUMENTOS CONTRA A DESCRIMINALIZAÇÃO DO ABORTO - 1

FRASES SEM RAZÃO


ninguém conseguiu jamais provar, com certeza absoluta, que um feto é mera extensão do corpo da mãe ou um ser humano de pleno direito

Mentira! A biologia mostra muito bem e com detalhes as fases do desenvolvimento. Para ser hipócrita ele fala em feto, não em embrião, como se a diferença não existisse.

A existência mesma da discussão interminável mostra que ...

Mostra que algumas pessoas simplesmente não aceitam o óbvio.

tem cinquenta por cento de chances de ser uma inocente operação cirúrgica como qualquer outra, ou de ser, em vez disso, um homicídio premeditado.

Engraçado, não se faz velório, enterro e atestado de óbito para embriões quando há aborto natural, nem mesmo a igreja reconhece o embrião como um ser humano a não ser para proibir o aborto.

nenhum ser humano pode arrogar-se o direito de cometer livremente um ato que ele próprio não sabe dizer, com segurança, se é ou não um homicídio.”

Beleza! Então, o aborto pode ser legalizado e quem se recusa a pesquisar a formação do embrião ou se recusa a acreditar na ciência que não o faça!

benefícios sociais hipotéticos

Hipotéticos? Salvar vidas humanas é um benefício social hipotético? Então por que ele usa o falso argumento de estar salvando uma vida humana para proibir o aborto?

Jamais tendo havido um abortista capaz de provar com razões cabais a inumanidade dos fetos

Ele insiste em falar em fetos. Hipócrita! Médicos e biólogos já apresentaram provas cabais da inumanidade dos embriões, no sentido de que não possuem ainda o cérebro e o sistema nervoso. E a desonestidade intelectual chega ao ponto de usar o termo “abortistas” para se referir às pessoas que são favoráveis à descriminalização do aborto, como a dizer que todas essas pessoas praticam e querem praticar o aborto. Estou ficando com nojo desse cara.

Para o abortista, a condição de "ser humano" não é uma qualidade inata definidora dos membros da espécie

Parece que para esse demagogo uma pessoa já nascida é que não tem a qualidade definidora dos membros da espécie: a qualidade de ser dona e responsável pelo seu próprio corpo.

se a condição de ser humano é uma convenção social, nada impede que uma convenção posterior a revogue, negando a humanidade de retardados mentais, de aleijados, de homossexuais, de negros, de judeus, de ciganos ou de quem quer que, segundo os caprichos do momento, pareça inconveniente.

Por isso é que, apesar do que diz esse babaca, quem determina o momento em que um embrião (e não um feto) passa a ser um ser sensiente e independente é a ciência, com evidências e argumentos sólidos e não com opiniões baseadas em religião ou falta de conhecimento. E ninguém nega que um embrião, assim como um óvulo ou um espermatozoide, pertencem à raça humana, em todos os casos são células ou aglomerados de células que têm o potencial de se tornar um ser humano. Isso não significa que todos os espermatozoides, todos os óvulos ou todos os embriões obrigatoriamente se tornarão seres humanos. Esse cara realmente é desonesto!

Não espanta que pessoas capazes de tamanho barbarismo mental sejam também imunes a outras imposições da consciência moral comum, como por exemplo o dever que um político tem de prestar contas dos compromissos assumidos por ele ou por seu partido

Tinha que vir com essa imbecilidade de argumento! Como o Datena dizendo que bandido é tudo ateu. Ele vem depois falar do Lula, de quem eu não gosto mas que não serve como argumento para esse tipo de discussão. O que tem Lé a ver com Cré?

Também não é de espantar que, na ânsia de impor sua vontade de poder, mintam como demônios

É a desonestidade de demonizar o adversário. Agora ele dá números e diz que foram baixando. Eu pergunto: Se UMA, uma única mulher morrer por fazer um aborto clandestino porque não teve o direito de fazê-lo legalmente já não seria muito? De quantas ele precisa? Não sei nada sobre os números, sei que números são mascarados e falsificados o tempo todo, sou professora do Estado e já vi muitos números “verdadeiros” que refletem uma realidade falsa.

É claro: se você não apreende ou não respeita nem mesmo a distinção entre espécies, como não seria também indiferente à exatidão das quantidades? Uma deformidade mental traz a outra embutida

Distinção entre espécies para quê? Para distinguir entre a vida de uma mulher adulta, ou quase, e a de um amontoado de células sem cérebro e sem sistema nervoso formado e dizer que a da mulher não vale nada?

Se algum abortista desejasse a verdade, teria de reconhecer que é incapaz de provar a inumanidade dos fetos

Esse cara é louco? Que “abortista” negou que um feto humano é um feto humano? Ele é que está negando a humanidade da mulher, e negando a ela o direito sobre seu próprio corpo. É louco, mentiroso, hipócrita e desonesto.

Embrião: s.m. Organismo em via de desenvolvimento, desde o ovo fecundado até a realização de uma forma capaz de vida autônoma e ativa. No homem, chama-se feto o embrião com mais de três meses.