quinta-feira, 14 de abril de 2016

RESPOSTA A FREI BETTO



Me enviaram por e-mail um texto de Frei Betto, uma grande pessoa esse Frei Betto, gosto mesmo das coisas que vejo sobre ele, mas não entendo sua religiosidade, ou melhor, não entendo os alicerces em que ele apoia sua religiosidade. Do que ele diz no texto, comentei esses trechos...

Frei Betto: Não creio no deus dos torturadores e dos protocolos oficiais, no deus dos anúncios comerciais e dos fundamentalistas obcecados; no deus dos senhores de escravos e dos cardeais que louvam os donos do capital. Nesse sentido, também sou ateu.

Divina: Aí está uma coisa que eu não entendo: Esse deus que ele descreve e no qual diz não crer, é parecido demais com o deus bíblico, com o deus da igreja católica em boa parte da sua história, e em muitos aspectos ainda hoje; sendo assim, eu não compreendo como uma pessoa esclarecida consegue não acreditar nesse deus e ao mesmo tempo pertencer à igreja dele e ter o livro dele como seu livro sagrado. Sei que pessoas como ele são pessoas especiais, sei que muitos religiosos são pessoas especiais, e fico muito feliz por saber que pessoas assim existem, só não entendo como é que elas conseguem ser cristãs e como conseguem ser católicas. Não é desafio, não é provocação, é incompreensão mesmo...

Frei Betto: Creio no Deus desaprisionado do Vaticano e de todas as religiões existentes e por existir.

Divina: Então como é que ele é FREI?

Frei Betto: Deus que precede todos os batismos, preexiste aos sacramentos e desborda de todas as doutrinas religiosas. Livre dos teólogos, derrama-se graciosamente no coração de todos, crentes e ateus, bons e maus, dos que se julgam salvos e dos que se creem filhos da perdição, e dos que são indiferentes aos abismos misteriosos do pós-morte.

Divina: Esse deus que ele descreve não existe na bíblia, no Alcorão ou na Torah. Pelo que sei, embora esses livros não sejam destituídos de belas lições, não há neles o que se poderia chamar de “predominância de Amor”. Esse deus que ele descreve seguramente não teria criado o mundo em que vivo; esse deus não teria criado a mim.

Frei Betto: Creio no Deus que não tem religião, criador do Universo, doador da vida e da fé, presente em plenitude na natureza e nos seres humanos.

Divina: Eu não entendo esse deus que ele descreve; um deus que não tem religião mas permite que as religiões existam e matem. Criador do universo e, portanto, criador de todo o mal? Doador da vida mas também propagador da morte? Doador dessa fé que costuma ser uma arma de preconceito e intolerância? Um deus que, se está presente em plenitude na natureza e no ser humano, então está presente também como injustiça, sofrimento, medo, doença, horror, morte? Esse deus seria um sádico!

Frei Betto: Creio no Deus da fé de Jesus, Deus que se aninha no ventre vazio da mendiga e se deita na rede para descansar dos desmandos do mundo.

Divina: Mas o deus da fé de Jesus é o deus que ameaça com a tortura eterna, o fogo e o “ranger de dentes” todo aquele que se recusar a aceitá-lo. O deus que se aninharia no ventre da mendiga me pareceria um sádico uma vez que poderia, porque é todo poderoso, não permitir que existisse uma mendiga. Um deus que tenha criado esse mundo, que soubesse o quanto de mal está acontecendo a cada momento e que se deitasse numa rede para descansar me pareceria um ser tão desprezível que minhas entranhas se revirariam de nojo e de ódio da possibilidade de tão grotesca e asquerosa personalidade.

Frei Betto: Deus da Arca de Noé, dos cavalos de fogo de Elias, da baleia de Jonas. Deus que extrapola a nossa fé, discorda de nossos juízos e ri de nossas pretensões; enfada-se com nossos sermões moralistas e diverte-se quando o nosso destempero profere blasfêmias.

Divina: O deus da Arca de Noé foi o deus que matou todos os habitantes do mundo, incluindo recém-nascidos e animais que, certamente, não eram pecadores e merecedores dessa destruição. Vejo isso como algo, no mínimo, tremendamente injusto, da mesma forma que vejo como injustiça a morte dos primogênitos do Egito e a destruição de Sodoma e Gomorra. Em todos esses casos vejo crianças pequenas, recém-nascidos e - nas cidades e na história da arca - vejo também os animais, todos esses inocentes sendo destruídos como se fossem pecadores. Os cavalos de Elias me parece tão fantasia quanto a bruma que levou Artur ou os lençóis que levaram Remédios, a bela. Desculpe, mas a história da baleia (peixe) não se sustenta também. Mitologias são bonitas, mas são mitologias. Esse deus só extrapola a fé no sentido de essa fé existir, de modo incompreensível, apesar de todo o absurdo e contra toda a lógica. Se ele ri e se diverte, depois de ter criado tanto horror, ele é certamente um sádico e por isso merece e merecerá sempre todo o desprezo com que se possa “louvá-lo”.

Frei Betto: Creio no Deus de Jesus. Seu nome é Amor; sua imagem, o próximo.

Divina: A frase é muito bonita, consigo perceber seu efeito, principalmente sobre os religiosos que realmente cultuam o amor, mas o deus de Jesus não é amor e o seu “próximo” exclui muita gente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário