quinta-feira, 21 de abril de 2016

50 perguntas instigantes



1. Quantos anos você teria se você não soubesse quantos anos você tem?

Depende. Se pudesse levar apenas a mim mesma em consideração, diria que 10, como não poderia e meu parâmetro tem e terá sempre que ser a sociedade em que vivo, então estou beirando 100 anos, e na hora de morrer.

2. O que é pior, falhar ou nunca tentar?

Depende. Se for algo que considero muito importante, que gosto e que quero, então o pior é nunca tentar; mas se for algo que a mim não importa tanto e que envolve riscos, como nunca me pejei de ser covarde, concluo que nunca tentar é uma boa opção.

3. Se a vida é tão curta, por que fazemos tantas coisas que não gostamos e gostamos de tantas coisas que não fazemos?

Porque de outra forma não conseguiremos sobreviver nem mesmo durante essa curta vida. Chegamos ao mundo e ele já está de determinada forma e é assim que acabamos tendo que viver, salvo raras exceções. Então, se nasci e vivo em uma cidade e se preciso ter um teto sobre minha cabeça, roupas e alimentos, sou obrigada a ter um emprego, por menos que goste disso. Posso adorar desenhar, mas se ninguém me paga por isso, tenho que trabalhar em outra coisa, seja como empregada doméstica, seja como secretária bilíngue, depende do nível de educação formal que consegui ter. Daí esse emprego e essa necessidade de sobrevivência acabam por tomar meu tempo de tal forma que pouco ou nada consigo desenhar... e, infelizmente, às vezes, chego até mesmo a esquecer que um dia desenhar foi o meu maior desejo.

4. Quando tudo já está dito e feito, será que você disse mais do que fez?

Às vezes. Ou talvez tenha feito mais do que disse. Há coisas que podemos fazer e coisas que não podemos, há coisas que podemos dizer e coisas que não podemos. E há coisas que até podemos fazer mas que não queremos assim como coisas sobre as quais até podemos falar mas sobre as quais preferimos não dizer nada. Sou tagarela e falo muito, sou preguiçosa e não gosto muito de fazer coisas que me aborrecem ou dão muito trabalho, mas, ao mesmo tempo tenho também, como todas as pessoas, segredos que não revelo nem sob tortura e coisas que faço porque gosto de fazer. Traduzindo tudo: Não dá para afirmar isso ou aquilo de forma generalizada.

5. Qual é a coisa que você mais gostaria de fazer para mudar o mundo?

A coisa mais impossível de ser feita que posso imaginar: Tornar o mundo um lugar sem a presença ou existência do mal. Sem cadeia alimentar, sem catástrofes naturais, sem extremos de calor e frio. Com as pessoas livres, saudáveis e capazes de viver o tempo que desejassem sem envelhecimento, sem necessidades que levem à dor ou à morte.

6. Se a felicidade fosse a moeda nacional, que tipo de trabalho o tornaria rico?

Ler e escrever.

7. Você está fazendo o que você acredita, ou você se contenta com o que está fazendo?

As duas coisas. Acho que não se deve desistir da educação e gosto de ser professora, acontece que está cada vez mais difícil encontrar satisfação real nessa profissão e quem optou por ela como eu acaba precisando se contentar com o pouco que tem.

8. Se a expectativa de vida humana média fosse de 40 anos, você viveria sua vida de forma diferente?

Se fosse assim eu já estaria morta. Mas de qualquer forma acho que não teria sido assim tão diferente. Embora muitas vezes tenha feito exatamente o que quis fazer, em muitos outros casos, como todo mundo, não tive tantas opções além da possibilidade de escolher o menos desagradável entre o que era possível fazer, e outras vezes simplesmente não tive opção nenhuma além de "faça isso ou morra”.

9. Até que ponto você realmente controlou o curso da sua vida?

Muito pouco, muito pouco mesmo. Não controlei onde e em que família nasci. Nunca pude controlar o que e quem sou, nunca controlei o que gosto e o que não gosto de fazer ou de aprender, nunca controlei o que as pessoas pensam e sentem sobre mim. Não controlo o tempo, o horário de trabalho nem a necessidade dele. Mas controlo meu sorriso e o carinho que dou aos meus alunos, controlo o que digo para os meus amigos. Controlo a maneira com que demonstro o amor que sinto, mas não o amor que sinto; controlo a maneira com que executo meu trabalho - embora não muito - mas não controlo as condições, o apoio, o ambiente ou a necessidade de trabalhar e, o que é pior: não consigo controlar minhas horas de descanso.

10. Você está mais preocupado em fazer as coisas direito ou está fazendo as coisas certas?

Acho que a gente nunca consegue, honestamente, saber se está fazendo as coisas certas. O máximo que podemos fazer - e é o que eu faço o tempo todo - é tentar agir bem, tentar tomar atitudes corretas, que ajudem o maior número de pessoas possível ou que, no mínimo, prejudique o mínimo de pessoas possível. Essa é a única maneira que podemos, conscientemente, tentar viver da melhor forma.

11. Você está almoçando com três pessoas que respeita e admira. Todos começam a criticar um amigo íntimo seu não sabendo que é seu amigo. A crítica é de mau gosto e injustificada. O que você faz?

Defendo meu amigo, claro! Não preciso

12. Se você pudesse oferecer a um recém-nascido só um conselho, qual seria?

Estude!

13. Será que você quebraria a lei para salvar uma pessoa amada?

Desde que a quebra de lei não envolva assassinato ou não prejudique seriamente alguém que não tem nada a ver com o caso, SIM, eu o faria sem dor na consciência.

14. Você já viu insanidade onde depois viu criatividade?

Não que eu me lembre. Mas já ouvi algumas histórias...

15. Pense em algo que você faria diferente da maioria das pessoas?

Se eu tivesse muito dinheiro. Enquanto a maioria das pessoas diante dessa possibilidade falam da(s) casa(s) e do(s) carro(s) que teria, eu penso que não queria ter casa ou carro. Queria dormir em hotel, comer em restaurantes e passar pouco tempo, talvez não mais que três ou seis meses, em cada lugar. E quanto a carro, alugaria e contrataria um motorista. Ao contrário da maioria das pessoas, não sou apaixonada por carros e não gosto de dirigir.

16. Como podem as coisas que fazem você feliz não fazerem todos felizes?

Simples, pessoas são diferentes e têm gostos diferentes! Um dos muitos exemplos que posso dar é esse: Tem gente que ficaria feliz se pudesse participar ativamente do mundo da moda, ver e até ajudar a organizar desfiles, estar sempre por dentro das tendências e todas as coisas, conhecimentos e atividades que envolvem esse tipo de atividade que, nem sei se todos, mas muitos consideram como arte. Eu seguramente não me sentiria feliz nesse mundo. Em compensação, minha noção de paraíso, que bate com a noção de paraíso de Jorge Luís Borges, é uma imensa biblioteca com todo o tempo do mundo para ler, reler e estudar cada um dos livros! Um lugar como esse, para muitas pessoas, seria um ambiente extremamente inóspito, tediante, desagradável; um verdadeiro inferno! Somos diferentes, e isso não significa, em absoluto, que eu seja melhor ou mais inteligente do que alguém que prefere o mundo da moda à biblioteca.

17. Qual a coisa que você não fez e que você realmente quer fazer?  O que está prendendo você?

Nunca escrevi um livro que as pessoas quisessem ler e que gostassem de ter lido. E não o fiz porque sou apenas uma pessoa “metida a escritora”, não sou uma escritora de verdade e não escrevo tão bem quanto seria necessário para que as pessoas gostassem de me ler.

18. Você está se apegando a algo que precisa deixar ir?

Não sei. Talvez à própria vida. Mas não tenho coragem de sair dela enquanto sei que faria minha mãe sofrer e enquanto desconfio que uma ou outra pessoa que, sem que eu possa entender por que motivo, me ama e prefere que eu esteja viva.

19. Se você tivesse que se mudar para um estado ou país além do que você vive no momento, para onde você iria e por quê?

Essa acaba sendo uma das razões para a minha afirmação de que a liberdade não existe: Eu não me mudaria para UM país ou estado, eu me mudaria para todos. Adoraria ser nômade e poder viver em viagem, estreando um lugar novo a cada, sei lá, seis meses. Acontece que não tive nunca essa opção, e acho que ninguém tem, a não ser um herdeiro multimilionário que possa gastar muito e não ficar sem dinheiro, mas acho que esse não costuma ser o desejo de muitos herdeiros multimilionários que podem gastar muito e nunca ficarem sem dinheiro. Aliás, acho que não existem muitos herdeiros multimilionários que podem gastar muito e nunca ficarem sem dinheiro.

20. Você aperta o botão do elevador mais de uma vez? Você realmente acredita que isso fará o elevador chegar mais rápido?

Não. Nunca faço isso. O que aperto mais de uma vez, mesmo sem acreditar de verdade que funciona, é aquele botão que tem nos postes e que (teoricamente) serve para abrir o sinal verde para pedestres atravessarem a rua. Sempre acho que aquilo não funciona nem se apertar uma única vez, mas mesmo assim, e na dúvida, aperto. Principalmente o que fica bem no meu caminho para chegar ao trabalho.

21. Você prefere ser um gênio preocupado ou uma pessoa simples e alegre?

Preferiria ser um gênio preocupado. Na verdade, eu já sou uma pessoa preocupada, mas, infelizmente, estou a anos luz de ser um gênio. Queria muito ser mais inteligente e mais capaz intelectualmente, daí talvez eu pudesse agir de alguma forma a fim de resolver alguns dos muitos problemas que me preocupam, embora certamente haveria outros que não me preocupam agora porque não tenho inteligência suficiente para tê-los detectado.

22. Por que você está onde está?

Porque meu marido está onde está. Estou com ele e ele precisou estar aqui por conta do trabalho. E estou com ele porque o amo e é com ele que quero estar.

23. Você é o tipo de amigo que quer como amigo?

Não. Não gosto muito de mim. Acho que sou muito fraca, muito “bundona”, muito medrosa, muito sem graça e tenho algumas coisas muito irritantes, como a voz e o jeito de conversar. Nem entendo como pessoas maravilhosas conseguem ser minhas amigas.

24. O que é pior, quando um bom amigo se afasta, ou perder o contato com um bom amigo que mora bem perto de você?

As duas coisas são igualmente ruins. Não vejo diferença em termos de grau de “ruindade” entre uma e outra situação.

25. Qual a coisa pela qual você é mais agradecido na vida?

Depende. Agradecida a quem? Se for a pessoas, sou agradecida a meus amigos por serem meus amigos, ao meu marido por ser meu companheiro de sempre, ao meu filho por ser o ser fantasticamente maravilhoso que ele é, à minha nora por amar meu filho e fazê-lo feliz, à minha mãe por me amar apesar de todas as decepções que dei a ela, aos professores que me ensinaram por terem me ensinado, aos autores dos livros que li por terem me proporcionado tantas horas de prazer, aos criadores dos bons filmes que vi por outras tantas horas de prazer... Agora, a coisas abstratas como a vida, coisas inexistentes como deus e a coisas impessoais como a natureza ou o universo, não tenho nada a agradecer justamente por serem abstratos, inexistentes e impessoais.

26. Você prefere perder todas suas velhas memórias ou nunca ser capaz de fazer novas amizades?

Bem, as duas coisas vão acontecer fatalmente. Mas prefiro conservar por mais tempo a memória das pessoas que amo do que a minha capacidade (limitada) de fazer novos amigos.

27. Será que é possível saber a verdade sem desafiá-la primeiro?

Sem dúvida! Nunca desafiei a lei da gravidade para poder adquirir o conhecimento dela. E esse é um exemplo bem banal, existem muitíssimas outras coisas que ficamos sabendo sem sequer ter como pensar em desafiar essa verdade. Mas, certamente, sobre algumas coisas é necessário que se desafie, com ceticismo, questionamento e estudo, para se chegar a um conhecimento. Isso costuma acontecer com a religião, o preconceito e o fanatismo.

28. Alguma vez o seu maior medo se tornou realidade?

Várias! O maior medo do momento, em um determinado momento, diante de uma situação tensa se tornar realidade na minha opinião é coisa comum na vida de todos nós. E em geral é diante dessa realidade do medo concretizado que temos um problema daqueles que causam sofrimento e exigem atitude, mesmo que essa atitude, por falta de condições, poder ou capacidade, seja apenas deixar o tempo curar a ferida.

29. Você se lembra daquela vez cinco anos atrás, quando você estava extremamente chateado? Será que aquilo realmente importa agora?

Se eu me lembro provavelmente é porque importa. Uma chateação desimportante teria que ter sido esquecida depois de cinco anos.

30. Qual é a sua memória mais feliz infância? O que a torna tão especial?

Foi quando descobri - porque meu professor me disse - que eu já sabia ler. Então contei ao meu pai e ele, sem dizer nada, saiu de casa e voltou pouco tempo depois me trazendo um gibi do Tio Patinhas.

31. Em que momento nos últimos tempos você se sentiu mais apaixonado e vivo?

Me sinto assim muitas vezes. Quando estou conversando com meu filho, quando estou com amigos muito especiais, quando estou em um momento mais descontraído com meu neguinho e até, quando estou em casa lendo um bom livro.

32. Se não for agora, então quando?

Um dia... ou nunca.

33. Caso você não tenha conseguido ainda, o que você tem a perder?

Muito... ou nada. Nem tudo que não consegui ainda foi por não ter me esforçado o suficiente para conseguir. Pode ter sido por não achar que vale a pena, por impossibilidade, ou por incompetência mesmo.

34. Alguma vez você já esteve com alguém, não disse nada, mas depois que se afastou sentiu que tinha tido a melhor conversa da sua vida?

Não. Sou muito tagarela. Em geral falo.

35. Por que as religiões que apoiam o amor causam tantas guerras?

Porque não apoiam o amor. As religiões apenas têm o discurso, comprado por muitos, de que apoiam o amor, mas isso não é verdade. Há muitos religiosos que apoiam o amor, mas não religiões.

36. É possível saber, sem sombra de dúvida, o que é bom e o que é mau?

Com toda certeza! Qualquer coisa ou pessoa que contribua para a proteção, felicidade, saúde e desenvolvimento de uma criança é bom; qualquer coisa ou pessoa que violente, agrida, prejudique, adoeça ou mate uma criança é mau. E esse é apenas um exemplo entre muitos.

37. Se você ganhar um milhão de dólares, você sairá do seu trabalho atual?

Com certeza! Tentarei fazer algo mais agradável e, principalmente, menos cansativo e estressante. Gosto de dar aulas, mas seria mais agradável dar aulas para alunos interessados, como quase não tenho isso e como já estou velha, acho que com todo esse dinheiro poderia me aposentar.

38. Você prefere ter menos trabalho para fazer, ou mais trabalho que você realmente gosta de fazer?

Se o que tenho a fazer é o que realmente gosto, então não tenho nenhum trabalho a fazer. A opção melhor aí seria que atrelado ao que gosto de fazer não houvesse também os “periféricos” e as obrigações: Chefes desagradáveis, obrigações burocráticas e entediantes, remuneração insatisfatórias, horários e prazos sufocantes...

39. Você sente como se você tivesse vivido o dia de hoje cem vezes antes?

Não. Felizmente não. Viver o mesmo dia cem vezes deve ser um tormento. É preciso que alguma diferença haja entre um dia e o outro.

40. Quando foi a última vez que você seguiu um caminho apenas com o brilho suave de uma ideia em que você acreditava fortemente?

Sei lá, semana passada? Faço isso quase que o tempo todo, tanto no trabalho quanto no dia a dia. Mas, felizmente ou infelizmente, na maioria das vezes a ideia em que acreditei fortemente não resulta em um sucesso. Acho que é normal que isso aconteça com os planejamentos e ideias de abordagem de conteúdo que nós professores temos, executamos e que os alunos criticam.

41. Se você soubesse que todos que você conhece morreriam amanhã, quem você visitaria hoje?

Ninguém. Eu ficaria com meu marido.

42. Você estaria disposto a reduzir sua expectativa de vida em  10 anos para se tornar extremamente atraente ou famoso?

Já passei dessa possibilidade. Mas, não. Essa nunca foi minha maior ambição, não acho que valha 1 ano, menos ainda 10.

43. Qual é a diferença entre estar vivo e realmente viver?

Aprender ou não aprender. Quem ainda tenta aprender vive, quem estaciona achando que sabe tudo está vivo.

44. Quando é hora de parar de calcular riscos e recompensas, e ir em frente para conseguir o que se quer?

Nunca. Sempre temos que calcular riscos e recompensas antes de seguir em direção a um objetivo. Não fazer isso é ser imaturo, irresponsável e burro. Como bem afirma Jean Cocteau: “A audácia consiste em saber até onde ir longe demais”.

45. Se aprendemos com os nossos erros, por que estamos sempre com medo de cometer um erro?

Porque na verdade nem sempre nossos erros nos ensinam alguma coisa e, principalmente, nem sempre nossos erros nos ensinam alguma coisa realmente útil. Um exemplo: Eu e meu marido construímos uma casa e criamos um filho. Nunca fizemos uma segunda casa e nunca quisemos ter outro filho. Então, muito do que aprendemos com essas duas atividades, por mais que o resultado, e até o processo, nos tenha dado prazer (principalmente no caso do filho), o fato é que tudo o que aprendemos a respeito de construir casas e criar filhos não serve para nada agora. Exceto para - se quisermos nos tornar dois velhos chatos - ficar dando às pessoas, sobre como construir casas e como criar filhos, conselhos que elas não pedem, não querem e não seguirão.

46. O que você faria de forma diferente se soubesse que ninguém iria julgá-lo?

Andaria sem roupas. Desde que fui a uma praia de nudismo concluí que roupas são uma convenção social incômoda, aprisionadora e sem sentido.

47. Quando foi a última vez que você notou o som da sua própria respiração?

A última vez que tentei descobrir se estava roncando. Acho que faz algumas semanas...

48. O que você ama? Alguma de suas ações recentes expressou abertamente esse amor?

Amo ler. Como leio o tempo todo, como todos me veem lendo, sim, minha atitude de abrir um livro sempre expressa abertamente esse amor que tenho pela leitura. Fora as muitas vezes que falo sobre minha paixão ou sobre um determinado livro com meus alunos.

49. Em 5 anos a partir de agora, você vai se lembrar o que você fez ontem? E sobre o dia antes disso? Ou no dia anterior?

Não sei. Posso não fazer nada muito relevante hoje ou nos próximos dias, ou posso ter Alzheimer e começar por esquecer esses próximos dias. Ninguém pode saber a resposta a essa pergunta.

50. As decisões estão sendo tomadas agora. A pergunta é: Você as está tomando por si ou está deixando que os outros as tomem por você?


Depende das decisões. Acho que poucos, ou ninguém, pode decidir todo e qualquer aspecto da própria vida. Algumas decisões posso tomo sim; outras, em determinados momentos, prefiro deixar que outra pessoa tome por mim, como deixar que meu marido decida em qual restaurante vamos almoçar nesse domingo. E há ainda as que não posso tomar e que outras pessoas tomam por mim, como meu horário de trabalho, minhas salas, a escola onde trabalho, decisões que só posso tomar escolhendo entre opções dadas, dentre as quais não consta o que eu realmente escolheria se pudesse. Por último há decisões que simplesmente não tenho como tomar, um exemplo são os casos de doença: quem decide o tratamento, se houver, é e tem que ser o médico, não eu.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

ARGUMENTOS CONTRA O ABORTO



1 - Hoje em dia só engravida quem é mesmo irresponsável. Promovendo o Planeamento Familiar não é preciso despenalizar o aborto.

- Que legal! A segurança dos contraceptivos agora é de 100%! E o papa já autorizou o uso de camisinha! TODAS as mulheres do planeta têm acesso às informações e às pílulas e podem usá-las, inclusive aquelas que são estupradas e abusadas; e nunca, nunca mesmo, acontece de um casal de jovens se deixar levar por um momento de loucura. Você mesmo, quando jovem, nunca fez nada de que pudesse se arrepender em seguida, certo? Cara, em que mundo você vive?

2 - Fazer um aborto é um atentado contra a vida humana.

- Ter uma criança sem ter condições de cuidar dela, sem poder ampará-la, sem poder alimentá-la e, pior ainda, sem ter capacidade de amá-la não é um atentado contra a vida? Obrigar uma pessoa nessas condições e ter uma criança não é um atentado contra DUAS vidas? Lembrando: aborta-se um aglomerado de células que, embora tenha potencial para vir a tornar-se uma criança, AINDA não é uma criança, mas abandona-se uma criança MESMO, uma criança real, completa, nascida. Qual dos dois é o maior atentado à vida? Por que você suporta a existência de crianças abandonadas e de mães que não podem cuidar dos filhos e não suporta o aborto? Desculpe, mas o nome disso não é hipocrisia?

3 - Nenhuma mulher foi parar à prisão por ter recorrido ao aborto.

- E quantas tiveram todo o seu futuro comprometido, toda a sua juventude abortada por terem sido obrigadas a levar adiante uma gravidez que não tinham condições de assumir? E quantas morreram por ter feito aborto em clínicas clandestinas, sem assistência e sem higiene adequada? E quantas morreram por ter, no auge do desespero, provocado o próprio aborto com coisas como agulhas de tricô? Quantas das crianças que a gente encontra jogadas pela rua não estariam lá se a mulher que as gerou sem ter como ser mãe tivesse tido acesso ao aborto? Será que vale mesmo a pena deixar que nasçam pessoas para apenas sobreviver em estado de total abandono? Será que vale mesmo a pena deixar que nasçam pessoas para que existam unicamente para estender a mão onde você deposita uma moeda e sai feliz porque ”comprou” com ela o seu lugar no paraíso? Seu paraíso, sua crença na própria bondade, seu exercício de “obedecer a deus” ajudando os miseráveis em troca da eternidade valem mesmo tanto assim?

4 - Um feto é uma "pessoa", semelhante a nós, com iguais direitos.

Quanto você conhece de biologia para fazer essa afirmação? Por que quando há um aborto espontâneo nos primeiros meses de gestação não se faz atestado de óbito e não se dá um nome ao ser? Será que isso não significa que essa sua afirmação de “semelhantes a nós, com iguais direitos” é apenas uma mentira mal elaborada? Você sabe que podemos legalizar o aborto de embriões? Você sabe a diferença entre embrião e feto? Você sabe em que momento da gestação é formado o sistema nervoso? Você sabe que antes de o sistema nervoso ser formado não há como aquele aglomerado de células ter qualquer tipo de sensação de dor? Que tal fazer uma pesquisa ANTES de sair falando sobre algo tão importante?

5 - O aborto legal deixa as mulheres à mercê de todo o tipo de pressões.

E a imposição de levar adiante uma gravidez indesejada, de colocar no mundo um filho que não pode criar e que não tem condições de cuidar, amar e proteger não é pressão nenhuma, certo? O terror de se sujeitar a ser atendida em clínicas clandestinas, de se deitar em mesas suspeitas e de ser atendida por pessoas que não estão capacitadas e que só querem o seu dinheiro sem se importar com sua vida não gera nenhum tipo de pressão, não é mesmo? Como alguém consegue fazer uma afirmação tão hipócrita?

6 - O aborto legal vai congestionar os serviços de saúde.

Ah, bom! Então o fato é que você quer que as mulheres desesperadas deixem em paz os hospitais (que são tão bons e atendem tão bem!) para que só os “privilegiados” tenham direito a atendimento! Assuma então que você não é a favor da vida coisa nenhuma, diga de uma vez que o que você quer mesmo é que deixem lugar para você na fila dos hospitais públicos. Aproveite e diga também que você é tão pouco inteligente e tão pouco informado que nem sequer consegue perceber que a gravidez indesejada, os abortos clandestinos e os auto-abortos forçados pelo desespero geram muito mais problemas de saúde, e consequentemente congestionam muito mais os serviços de saúde do que o aborto legal faria.

7 - A despenalização do aborto vai provocar o aumento do número de abortos.

O que provoca o aumento do número de aborto é a falta de uma educação adequada, é a falta de assistência psicológica e material às famílias de baixa renda e aos jovens, é o entrave dos dogmas e imposições das religiões que proíbem o uso de camisinha e impõem aos jovens uma abstinência que vai contra sua índole, seus hormônios, sua saúde e seu meio social. A despenalização do aborto, o investimento na educação e o estado realmente laico com a igreja fora de decisões legais que não lhe dizem respeito, isso sim são coisas que contribuiriam para diminuir o número de abortos.

8 - O aborto é um pecado. É mau e imoral.

Pode ser um pecado de acordo com a SUA religião. Se esse é o caso então VOCÊ não deve fazer aborto, caso queira seguir os preceitos da SUA religião. Mas o que a SUA religião determina não deve ser imposto a todas as pessoas. Você não tem o direito de impor SUA religião e a SUA crença religiosa a um país inteiro. Isso é simplesmente DESONESTO.

9 – É fácil falar em abortar, afinal você já nasceu.

Que argumento estúpido! Então quer dizer que quem não nasceu pode falar em não abortar? Será que não é óbvio que só quem já nasceu – e ainda não morreu – pode dizer, pensar e defender QUALQUER COISA? Por que será que esses “pró-vida” aceitam que um ser cujo cérebro parou de funcionar deixou de ser um ser vivo e não aceitam o fato de que um aglomerado de células que ainda não tem cérebro não é uma pessoa? Em contrapartida a mulher, essa sim já nasceu, tem um cérebro em pleno funcionamento e, portanto, é uma pessoa. É ela que tem direito a ter opinião.

quinta-feira, 14 de abril de 2016

ASSISTENCIALISMO, MERITOCRACIA E COISAS QUE TAL. CARTA RESPOSTA A UM AMIGO



Amigo, eu concordo que esses aspectos apontados por você são pontos negativos. Ignorar a existência da individualidade do cidadão, o fato de que algumas pessoas são mais capazes e outras menos capazes, renegar o talento, a livre iniciativa e os direitos autorais com certeza é ignorar a individualidade do ser humano e é também privilegiar a mediocridade. Qualquer estado que faça isso é injusto e fatalmente acabará por ser derrubado “minado por dentro”.

Mas tenho algumas poucas coisas a dizer: 

Não vejo de forma tão radical assim esse trecho do texto “Uma grande parte do lucro das empresas estatais, que seria destinado a você, jamais chegaria às suas mãos, pois muitas vezes, não seria convertido em benefícios diretos para você e sua família, ele seria usado em coisas que em nada auxiliariam ou estariam ligadas a sua vida”. 

Penso que SE o estado se responsabilizasse por educação, saúde, saneamento, etc... isso refletiria sim em minha vida e na vida de minha família: Não gastaríamos fortunas com educação e planos de saúde, não precisaríamos de carros e se parte do meu lucro fosse usado para que eu pudesse caminhar pelas ruas sem tropeçar em buracos, sacos de lixo e crianças abandonadas, eu daria com prazer essa parte do meu lucro. 

Daí que, quanto a isso aquela outra parte do texto “Ou seja, independente da profissão e tempo que você teve que disponibilizar para se formar, seu salário será exatamente igual ao de todos os outros profissionais que trabalham em qualquer outra área” continuaria sendo verdade, mas não muito porque o tempo e o esforço gastos sim, continuariam sendo meus, mas o investimento financeiro em educação deixaria de sair do meu salário. 

Eu não me importaria de ter o mesmo salário de um lixeiro, desde que tanto ele quanto eu conseguíssemos viver com dignidade em um país sem miséria.


Estou falando tudo isso considerando a situação como TEORIA. Na prática, acho, o que acontece é que o governante se perpetua no poder e boa parte desse lucro que seria para todos fica nas mãos dele e dos seus “amigos” que continuam, na prática, sendo MUITO capitalistas. 

Ou pior, voltando àquele regime dos regentes superpoderosos cujas atitudes e a revolta por elas deram origem à Revolução Francesa: “L’ état c’est moi”.

RESPOSTA A UM SENHOR COM QUEM DISCUTI RELIGIÃO



Em 2008, quando estava morando na França, recebi desse senhor um e-mail criticando meu hábito de publicar textos antirreligiosos na internet. Como essa não foi a primeira mensagem desse tipo que recebi, embora tenha sido uma das mais educadas, respondi, aqui está a essência dessa conversa:

Ele: Contudo, minha opinião, não necessariamente tento impô-la aos meus amigos, porque cada ser é um ser completamente diferente, com uma cabeça completamente diferente. Quem sou eu para converter alguém, não é mesmo?

Minha resposta: Engraçado, acho que quando o senhor diz isso, esquece que os religiosos vivem de pregações, esquece que as religiões, pelo menos pelo pouco que sei do assunto, incentivam como sendo um dever do seu fiel angariar novos adeptos para sua igreja, as religiões protestantes falam em “levar a palavra” e os Testemunhas de Jeová se espalham pelas cidades batendo de porta em porta, inclusive incomodando o sono matinal de muitos trabalhadores no seu único dia de descanso.
O que o senhor me diz desses fiéis que abordam as pessoas nas ruas, que fazem longos discursos para seus amigos e familiares, que entopem os computadores das pessoas e suas caixas de correspondência físicas com mensagens de fé? Não vejo com muita frequência alguém dizendo que esses religiosos estão fazendo algo terrível e desrespeitando o direito e a privacidade das pessoas.
No entanto quando pego um texto que alguém escreveu e com o qual concordo ou que eu mesma escrevi depois de ler tantas mensagens me chamando “para perto do senhor” e publico em qualquer rede social ou no meu blog, sempre recebo mensagens dizendo que estou tentando impor minha opinião e que não tenho direito de fazer isso. É impressão minha ou está havendo uma avaliação descabida aí? Acho que, quando se trata de religião, os direitos decididamente não são iguais.
Além disso, o senhor está enganado, não estou tentando convencer ninguém de nada, estou tentando fazer com que as pessoas pensem, simplesmente pensem.
As pessoas religiosas, mesmo as mais inteligentes e sensatas, mesmo as extremamente cultas e estudadas, em geral pensam e raciocinam a respeito de qualquer assunto, mas impõem-se uma barreira quando o tema é a sua fé, recusam-se a usar a sua inteligência quando se trata de analisar o deus em que acreditam.
Em suma, por mais inteligentes que sejam, as pessoas costumam se recusar a usar essa inteligência para pensar, pesar e analisar o próprio comportamento quando se trata de religião.
Eu tento provocá-las para que o façam, só isso.

Ele: “Quando vejo um texto deste enviado pela senhora, penso no desperdício de cultura, solidez emocional, de situação social que a senhora tem, e teima em tratar temas deste porte por e-mail (...) a senhora poderia utilizar este espaço grátis que lhe é oferecido, para enviar palavras mais encorajadoras às pessoas que lhe cercam.

Minha resposta: Eu não sabia que tinha discriminação de assunto na internet! Podem tratar de religião enviando pregações e mensagens de fé, podem usar de “bom humor” enviando piadas e de mau gosto e aquelas terríveis videocassetadas, podem usar de bom gosto enviando obras de arte e de gosto duvidoso enviando correntes sem sentido ou mensagens alarmantes e duvidosas, mas expressar alguma opinião contrária ao senso comum é indigno!
            A meu ver, estou enviando palavras encorajadoras. As minhas palavras seriam: liberte-se da prisão da religião e da crença! Seja livre! Você não precisa aceitar chantagem para ser uma pessoa correta e digna, você consegue fazer o que é certo mesmo sem a crença de um paraíso eterno para obrigá-lo a isso, fazer o que é certo simplesmente porque é certo vale muito mais do que qualquer chantagem religiosa!
E, de que forma e por que meio o senhor acha que eu deveria tratar temas desse porte? Será que devo escrever um livro e publicá-lo às minhas próprias custas e depois me colocar diante de lugares movimentados ou bater de porta em porta tentando vendê-lo? Seria mais digno assim, na sua opinião?

Ele: Não acha a senhora que está forçando a barra? E que está se tornando uma pessoa chata?

Minha resposta: Não, não acho que estou me tornando uma pessoa chata. Eu SOU uma pessoa chata! E sou chata porque penso, porque questiono, porque quando escrevo, escrevo o que penso. Sei que o que penso não bate com o que a maioria das pessoas pensam, daí contrario o senso comum, vou na contramão do que é considerado positivo e “bonitinho”, não faço apologia daquelas coisas consideradas verdades absolutas como a beleza da natureza, a perfeição do ser humano, a maravilha da vida e a bondade de deus, pelo contrário, discordo de tudo isso e mostro minha discordância quando escrevo, por isso sou chata e me assumo como tal.
Se ainda existisse inquisição eu já não estaria aqui como voz discordante da massa, já teria sido queimada há muito tempo, mas como a inquisição acabou (pelo menos por enquanto!) aqui estou eu, sendo chata!

Ele: O que a senhora faz de bem para o próximo? (É claro que, excetuando os textos que manda). Com toda sua bagagem, a senhora ajuda alguém? Ou também não acredita no amor ao próximo?

Minha resposta: Isso sim é muito engraçado! Os religiosos têm um deus onipotente, onisciente e onipresente e vêm perguntar a MIM o que eu faço para o próximo! Parece piada!
Desculpe a explosão, é que o senhor não é a primeira pessoa que me faz essa pergunta em resposta às minhas demonstrações de falta de fé e acho a pergunta tão absurda que não acredito que alguém tenha realmente pensado de verdade nela antes de enviá-la.
Mas respondendo: Quando eu era bem criança, minha mãe me ensinou uma das coisas mais lindas dentre todas as muitas coisas que ela me ensinou na vida e essa coisa foi “A sua mão esquerda não deve saber o que a sua mão direita faz”.
Sei que minha mãe estava citando algum preceito religioso, mas o fato é que quando ela me explicou que com essa frase queria dizer que a gente não tem que ficar espalhando aos quatro ventos as coisas que faz de bem porque isso é imodesto e desvaloriza totalmente o nosso gesto, entendi e achei muito certo, acho ainda.
Ao longo da vida, outra verdade veio se acrescentar, para mim a essa frase: Vejo que ajudar alguém deixa as pessoas felizes. Alguém já disse que se não pedissem esmolas em lugares públicos e se não tivesse ninguém olhando, os mendigos faturariam muitíssimo menos.
É curioso, mas além da necessidade de mostrar isso, parece que todo mundo fica feliz quando tem a oportunidade de fazer alguma coisa boa por outra pessoa, ou até por um animal, parece que as pessoas sentem – mas jamais admitiriam isso! – algo como “Que bom que essa pessoa esteja sofrendo, assim eu posso ajudá-la!”
Eu, mais uma vez indo na contramão, sinto exatamente o contrário: ao ajudar alguém fico profundamente triste, fico comovida e dolorida porque sempre penso e sinto algo como “Por que precisa existir esse tipo de sofrimento? Quantos outros horrores como este, e pior do que este, estão acontecendo no mundo nesse mesmo momento e eu não posso fazer nada?”
Não estou sendo boazinha, estou sendo chata! Afinal, não sou nem sequer potente, muito menos onipotente, não sou nem sequer ciente, muito menos onisciente, não posso estar presente durante muitas horas nem mesmo no lugar onde estou, quanto menos ser onipresente, e, no entanto, me dizem que existe um deus que é e pode tudo e que, além de tudo isso é bom, mais do que bom, é a própria bondade, e ainda assim as coisas são como são e é de mim que vêm cobrar uma atitude, de mim que sou tão impotente! Isso tudo me entristece e me dá raiva! Como podem acreditar em um deus assim vendo o mundo com olhos como os meus?
O senhor me chama de inteligente, não é verdade, não sou nem um pouco inteligente, não consigo entender as pessoas louvando e agradecendo a deus porque sararam de um resfriado e esquecendo completamente dos milhões de crianças que estão sendo espancadas e violentadas nesse mesmo momento e pelas quais esse deus não faz nada! Não sou inteligente porque não consigo entender isso por mais que tente!

Ele: Sabe, Dona Divina. Não sou religioso. Não sou tão viajado quanto a senhora. Também não tenho uma vida maravilhosa como a senhora descreveu em seu texto anterior. Mas saiba a senhora que respeito muito as pessoas e gosto muito de poder ajudá-las no que for preciso e estiver ao meu alcance. Se não gosto de uma coisa eu me afasto dela e não fico criticando de uma maneira míope. Sabe por que? Tudo na vida, mas tudo mesmo tem visões diferentes quando vista de outro ângulo, e quem sou eu para criticar uma coisa como Deus? E acho que a senhora também deveria pensar a respeito desta sua miopia divina. E por falar nisto, Divina está até no nome da senhora. Que coisa!!!!

Minha resposta: Pois é, aí nós discordamos completamente! Pelo que vejo o senhor é religioso sim, e muito, afinal, sentiu-se até magoado por ter lido textos enviados por mim “ofendendo” o deus em que acredita, o senhor não se daria esse trabalho se não fosse religioso.
E, sou um ser humano, assim como o senhor e todo mundo, tenho cérebro, sei pensar e sei ver as coisas porque sou assim. Na minha opinião, isso dá a mim, e a todo mundo, o direito de criticar tudo e qualquer coisa, inclusive e principalmente deus.
Não acredito que ele exista, mas se eu estiver errada e os religiosos certos, então ele existe e me fez como sou, e eu tenho capacidades que, se acreditar na existência dele, ele mesmo me deu, portanto, posso usar.
Por que tenho que me proibir de criticar deus? Se eu estiver certa e ele não existe, estou criticando a ideia de deus, que acho absurda e sem sentido, se eu estiver errada e ele existe, estou criticando ele mesmo, o próprio, porque ele é um sádico megalomaníaco.
Eu não estava presente quando os bandidos arrastaram aquela criança pelas ruas do Rio, se ele existe e é onipresente então ele estava e não fez nada! Eu não sabia antes de ler no jornal que aquela menina foi trancafiada em uma cela de prisão juntamente com uns 20 bandidos que a estupraram por dias seguidos, se ele existe e é onisciente então ele sabia e não fez nada! Eu não podia entrar na casa em que uma menina de quatro anos sobre a qual fiquei sabendo ontem à noite no jornal aqui da França foi espancada a vida inteira pelo pai, pela mãe e finalmente pelo padrasto até ser morta, enfiada em um saco e jogada no rio como um animal, se ele existe e é onipotente então ele podia e não fez nada!
Citei três casos dos bilhões e bilhões que aconteceram, estão acontecendo agora e acontecerão no futuro e que eu não soube, não sei e não saberei nunca, não pude, não posso e não poderei nunca evitar e não estava, não estou e não estarei presente no momento em que acontecem enquanto que ele, se existe como os religiosos afirmam com tanta convicção, soube e sabe de todos, esteve e está presente em todos, pôde e pode evitar todos... mas não o fez, não o faz e não o fará!
Não, eu é que não vou adorar um deus como esse! Assumo a responsabilidade!

Ele: Desculpe-me, em nenhum momento desejo ofendê-la muito menos tentar convencê-la de alguma coisa, mas infelizmente, não pude permanecer calado, por estes dois textos sobre Deus. Acho que não deve brincar com estas coisas e se a senhora não acredita, ok, não serei eu que irei convencê-la, mas por favor pense em que está divulgando gratuitamente pela internet. A senhora tem capacidade de fazer outras coisas muito mais importantes para a humanidade que isto.

Minha resposta: Novamente o senhor está enganado, não estou brincando, estou falando muito sério e estou expondo o que penso e o que sinto. Me incomoda essa crença cega que trava a capacidade de raciocínio das pessoas. 
            Não tenho capacidade de fazer nada pela humanidade comparado com o que pode fazer deus, se ele existir, e dele ninguém cobra. Se ele que pode não faz por que eu que não posso tenho que fazer?
Não estou ofendida, sei que quando exponho opiniões tão contrárias ao senso comum vou receber respostas como a sua e até respostas nem um pouco educadas (o contrário da sua), mas pense: por que é tão errado divulgar por internet algo que se pensa e sente quando tantas outras pessoas fazem isso e não estão erradas?

RESPOSTA A FREI BETTO



Me enviaram por e-mail um texto de Frei Betto, uma grande pessoa esse Frei Betto, gosto mesmo das coisas que vejo sobre ele, mas não entendo sua religiosidade, ou melhor, não entendo os alicerces em que ele apoia sua religiosidade. Do que ele diz no texto, comentei esses trechos...

Frei Betto: Não creio no deus dos torturadores e dos protocolos oficiais, no deus dos anúncios comerciais e dos fundamentalistas obcecados; no deus dos senhores de escravos e dos cardeais que louvam os donos do capital. Nesse sentido, também sou ateu.

Divina: Aí está uma coisa que eu não entendo: Esse deus que ele descreve e no qual diz não crer, é parecido demais com o deus bíblico, com o deus da igreja católica em boa parte da sua história, e em muitos aspectos ainda hoje; sendo assim, eu não compreendo como uma pessoa esclarecida consegue não acreditar nesse deus e ao mesmo tempo pertencer à igreja dele e ter o livro dele como seu livro sagrado. Sei que pessoas como ele são pessoas especiais, sei que muitos religiosos são pessoas especiais, e fico muito feliz por saber que pessoas assim existem, só não entendo como é que elas conseguem ser cristãs e como conseguem ser católicas. Não é desafio, não é provocação, é incompreensão mesmo...

Frei Betto: Creio no Deus desaprisionado do Vaticano e de todas as religiões existentes e por existir.

Divina: Então como é que ele é FREI?

Frei Betto: Deus que precede todos os batismos, preexiste aos sacramentos e desborda de todas as doutrinas religiosas. Livre dos teólogos, derrama-se graciosamente no coração de todos, crentes e ateus, bons e maus, dos que se julgam salvos e dos que se creem filhos da perdição, e dos que são indiferentes aos abismos misteriosos do pós-morte.

Divina: Esse deus que ele descreve não existe na bíblia, no Alcorão ou na Torah. Pelo que sei, embora esses livros não sejam destituídos de belas lições, não há neles o que se poderia chamar de “predominância de Amor”. Esse deus que ele descreve seguramente não teria criado o mundo em que vivo; esse deus não teria criado a mim.

Frei Betto: Creio no Deus que não tem religião, criador do Universo, doador da vida e da fé, presente em plenitude na natureza e nos seres humanos.

Divina: Eu não entendo esse deus que ele descreve; um deus que não tem religião mas permite que as religiões existam e matem. Criador do universo e, portanto, criador de todo o mal? Doador da vida mas também propagador da morte? Doador dessa fé que costuma ser uma arma de preconceito e intolerância? Um deus que, se está presente em plenitude na natureza e no ser humano, então está presente também como injustiça, sofrimento, medo, doença, horror, morte? Esse deus seria um sádico!

Frei Betto: Creio no Deus da fé de Jesus, Deus que se aninha no ventre vazio da mendiga e se deita na rede para descansar dos desmandos do mundo.

Divina: Mas o deus da fé de Jesus é o deus que ameaça com a tortura eterna, o fogo e o “ranger de dentes” todo aquele que se recusar a aceitá-lo. O deus que se aninharia no ventre da mendiga me pareceria um sádico uma vez que poderia, porque é todo poderoso, não permitir que existisse uma mendiga. Um deus que tenha criado esse mundo, que soubesse o quanto de mal está acontecendo a cada momento e que se deitasse numa rede para descansar me pareceria um ser tão desprezível que minhas entranhas se revirariam de nojo e de ódio da possibilidade de tão grotesca e asquerosa personalidade.

Frei Betto: Deus da Arca de Noé, dos cavalos de fogo de Elias, da baleia de Jonas. Deus que extrapola a nossa fé, discorda de nossos juízos e ri de nossas pretensões; enfada-se com nossos sermões moralistas e diverte-se quando o nosso destempero profere blasfêmias.

Divina: O deus da Arca de Noé foi o deus que matou todos os habitantes do mundo, incluindo recém-nascidos e animais que, certamente, não eram pecadores e merecedores dessa destruição. Vejo isso como algo, no mínimo, tremendamente injusto, da mesma forma que vejo como injustiça a morte dos primogênitos do Egito e a destruição de Sodoma e Gomorra. Em todos esses casos vejo crianças pequenas, recém-nascidos e - nas cidades e na história da arca - vejo também os animais, todos esses inocentes sendo destruídos como se fossem pecadores. Os cavalos de Elias me parece tão fantasia quanto a bruma que levou Artur ou os lençóis que levaram Remédios, a bela. Desculpe, mas a história da baleia (peixe) não se sustenta também. Mitologias são bonitas, mas são mitologias. Esse deus só extrapola a fé no sentido de essa fé existir, de modo incompreensível, apesar de todo o absurdo e contra toda a lógica. Se ele ri e se diverte, depois de ter criado tanto horror, ele é certamente um sádico e por isso merece e merecerá sempre todo o desprezo com que se possa “louvá-lo”.

Frei Betto: Creio no Deus de Jesus. Seu nome é Amor; sua imagem, o próximo.

Divina: A frase é muito bonita, consigo perceber seu efeito, principalmente sobre os religiosos que realmente cultuam o amor, mas o deus de Jesus não é amor e o seu “próximo” exclui muita gente.